Rede pública oferece tratamento
“É mais fácil comprar hormônio do que doce.” Essa frase é do jornalista Cristian Lins, 42 anos, que usa de testosterona há dois anos e meio e nunca fez acompanhamento com médico.
Ele afirma que compra receita por meio de grupos do Facebook e que vem pelos correios. O jornalista pede para colocarem a receita com seu nome. “Como tem limitação de venda de caixas [de hormônios], compro várias receitas e faço um estoque.”
Ele afirma que há nos grupos casos de pessoas que vão ao médico e repassam o tratamento para outros seguirem. “Como trocamos muita informação, os que vão ao médico compartilham o tratamento e o pessoal começa a fazer. Há casos de pessoas que não têm dinheiro para pagar uma consulta, e pelo SUS demora.”
Lins diz que não abusa e não mistura remédios. “Tem gente que quer resolver uma vida toda em seis meses. Tento fazer o mais certo possível”, afirma. Ele quer passar por cirurgia para retirada das mamas.
Os transexuais podem ter acesso a vários serviços públicos pelo SUS (Sistema Único de Saúde). O Brasil é referência no assunto e desde 2013 oferece, além da cirurgia de transgenitalização, as terapias hormonais, que ajudam a adequar o corpo ao gênero pretendido.
Para ter acesso ao tratamento, o paciente precisa ter passado por pelo menos dois anos de acompanhamento terapêutico e endocrinológico. É necessário ter mais de 18 anos, uma vez que determinadas fases do processo são irreversíveis, como a retirada das mamas e mudança genital. Para a cirurgia, é preciso ter mais de 21 anos.
O psiquiatra Alexandre Saadeh é coordenador do ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual, da USP (Universidade de São Paulo), que atende casos de crianças e adolescentes de todo o Brasil. O objetivo de começar o tratamento na infância é evitar o sofrimento. Segundo ele, parte de adolescentes se automedica. “Eles precisam ser muito bem acompanhados”, afirma.