À moda da Fiel
A conquista do heptacampeonato do Corinthians, decidida no clássico contra o arquirrival Palmeiras, no domingo, ganhou dimensão épica.
A taça poderia ter sido assegurada muito antes, devido à espetacular campanha da primeira fase, mas se prorrogou até agora pela queda assombrosa no returno. Ninguém explica bem os motivos desse desequilíbrio. Já ouvi falar em excesso de baladas, pagamentos em atraso, limitação de Fábio Carille em buscar alternativas táticas depois que o esquema ficou manjado... Nada disso me convence.
Tenho a impressão de que isso só ocorreu para que o clube fosse fiel à tradição. À mística de sofredor que envolve seu torcedor. Não teria graça ser campeão sem lágrimas, suor e angústia em doses cavalares.
Então me vem à cabeça a imagem de Luizinho, o Pequeno Polegar, meia dos anos 1940 aos 60 que tem até busto no Parque São Jorge. Esse endiabrado driblador às vezes voltava uma jogada só para dar uma finta a mais, desnecessária para o gol, mas essencial para levantar o público. Reza a lenda que chegou a se sentar sobre a bola à frente de seu marcador. O gesto de irreverência teria acontecido diante do palmeirense Luiz Villa, logo após ter-lhe dado uma caneta.
Pois foi isso o que o Corinthians fez agora. Sentou-se sobre a bola para atiçar os rivais e dar chance para que eles se aproximassem. Manipulou o destino de modo que a grande decisão coincidisse com o Dérbi. Um capricho para injetar adrenalina na disputa.
Assim a Fiel pôde ser protagonista ao ir em massa, com 32 mil loucos, ao treino que antecedeu o clássico para acordar o time adormecido. Só para provar a velha máxima: “Todo time tem uma torcida. O Corinthians é uma torcida que tem um time”.