Gêmeas unidas pela cabeça são separadas no interior
Ribeirão Preto A cirurgia para separar as duas meninas que nasceram unidas pela cabeça em 2016, no Ceará, foi realizada ontem com sucesso. Comandada pelo neurocirurgião Hélio Rubens Machado, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (301 km de SP), ela foi a primeira de quatro operações que serão feitas até que Maria Ysabelle e Maria Ysadora, de 1 ano e 6 meses, sejam separadas por completo.
A mãe das crianças, Débora de Freitas Santos, 27, já foi comunicada de que tudo deu certo. “O médico me disse que não teve nenhuma surpresa e que tudo o que ele planejava ocorreu. Está tudo bem‘, diz ela. A reportagem revelou, em janeiro, que o HC de Ribeirão, depois de um ano de exaustivo planejamento, realizaria o procedimento, um dos mais complexos que já ocorreram no país.
No Brasil, segundo estudos do HC de Ribeirão, só uma cirurgia como essa, feita há vários anos, foi divulgada em publicações científicas. Uma das crianças, com microcefalia, não tinha chances de sobreviver. A outra foi salva. Já as gêmeas cearenses separadas ontem são saudáveis.
Casos de craniópagos, que nascem unidos pela cabeça, são raríssimos: ocorrem numa proporção de 0,6 por milhão de nascimentos.
A equipe brasileira contou com o reforço do neurocirurgião americano James Goodrich, do Montefiore Medical Center de Nova York. Um dos maiores especialistas no assunto do mundo, ele já tinha operado 20 craniópagos.
Antes da cirurgia, o crânio e o cérebro das duas foram reconstruídos de forma tridimensional, e um molde de acrílico foi feito nos EUA com o detalhe “de cada voltinha do cérebro, cada veia e artéria, exatamente como são”, diz o doutor Hélio. Havia temor de que fosse impossível separar a circulação.
Além da cirurgia deste sábado, outras três serão realizadas. O valor desse tipo de cirurgia é calculado em US$ 2,5 milhões (R$ 8 milhões) na rede privada dos EUA.