Agora

Vai, America!

- Marcos Guedes

Tive a sorte de estar em Madureira, mais uma vez, no último final de semana. O bairro carioca é mesmo “cercado de luta e suor, esperança num mundo melhor e cerveja pra comemorar”, como observou Arlindo Cruz.

“Lá, tem samba até de manhã, uma ginga em cada andar”. Aquele lugar, “bem perto de Cascadura, Vaz Lobo e Irajá”, também “tem seus mitos e seres de luz”. E o contato com eles é simples.

Pode ser na calçada, em uma caminhada pela travessa Natal. Ou pela rua Clara Nunes, batizada em homenagem à cantora que tomou para si a definição “ser de luz”.

A acolhedora via abriga a quadra da Portela. E até os bustos dos fundadores Paulo, Caetano e Rufino parecem adotar outra feição quando o nome da mineira é mencionado, como se qualquer sentimento ruim se dissipasse.

A 800 metros dali, ocorre algo parecido. No Império Serrano, é tarefa impossível pronunciar “Dona Ivone” sem que o ambiente seja tomado de sorrisos negros.

Nem a morte da Dama do Samba, aos 97 anos, mudou isso. Seu corpo foi velado na escola que tanto amava, na última terça-feira, ao som do batuque que ela ouviu —e produziu, com um feminismo bem anterior à era do “empoderame­nto”— por quase um século.

O momento era triste, claro, mas quem esteve na quadra percebeu algo que pude notar no sábado anterior, mesmo sem a presença física de Ivone Lara. Ela é um desses seres varados de luz, que mudam tudo para melhor ao seu redor, misto de luta e doçura capaz de atingir até quem não sabe o que é um agogô.

“Alguém me avisou” que seu caixão estava coberto com a bandeira do America Football Club, outra de suas paixões, o que torna minimament­e aceitável a homenagem neste espaço. Vai, America!

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