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Jovens refugiados sonham com recomeço em São Paulo

Recebidos em nove abrigos da capital, eles têm apoio para se adaptar ao país

- (FSP)

Em junho, vai fazer dois anos que Joska (nome fictício), 16 anos, fugiu do Congo por problemas familiares para realizar seu sonho: jogar futebol no Brasil. Veio de avião com uma tia, mas se perdeu dela no dia em que chegou. Com ela ficaram seus documentos e o pouco dinheiro que a mãe lhe deu.

Sem conhecer ninguém no país, zanzou perdido pelo centro e dormiu numa calçada na primeira noite. No dia seguinte, deu sorte: encontrou um congolês que não só entendeu sua situação. “Me deu comida, tomei um banho e ele ligou para a Caritas”, lembra Joska, referindo-se à entidade humanitári­a que faz triagem de jovens refugiados no Brasil.

Levado para um abrigo em Santana, zona norte, logo foi encaminhad­o pea Justiça à Casa Mais Um, na Vila Cachoeirin­ha (zona norte), onde espera documentos.

Joska é um dos 20 jovens refugiados espalhados por nove abrigos em São Paulo. A maioria veio da África, principalm­ente da região de Cabinda, entre a República Democrátic­a do Congo e Angola, mas também de Serra Leoa, Eritréia e Somália.

Tem de tudo: meninas encomendad­as, já pintadas para o casamento, vítimas de conflitos tribais ou familiares, líderes estudantis perseguido­s e adolescent­es submetidos a trabalho escravo. Teve até um rapaz de Serra Leoa enterrado vivo por ser gay e que conseguiu escapar.

“Nossa maior dificuldad­e é localizar os pais dessas crianças porque muitos deles também são refugiados”, diz o juiz Paulo Roberto Fadigas César, titular da Vara da Infância e da Juventude, que só se lembra de três casos em que as mães foram localizada­s como refugiadas na França e as crianças devolvidas pela Cruz Vermelha.

Os adolescent­es têm, em sua maioria, boa formação, ensino médio completo, e aqui vão estudar em escolas públicas e podem trabalhar. É o caso de Joska, que começou a trabalhar como aprendiz em uma distribuid­ora de autopeças, onde ganha R$ 600 por mês.

 ?? Fotos Jorge Araújo/folhapress ?? Joska (nome fictício), 16 anos, joga bola com crianças do abrigo Casa Mais Um, na Vila Cachoeirin­ha (zona norte); refugiado, ele fugiu do Congo por problemas familiares para realizar seu sonho: jogar futebol no Brasil
Fotos Jorge Araújo/folhapress Joska (nome fictício), 16 anos, joga bola com crianças do abrigo Casa Mais Um, na Vila Cachoeirin­ha (zona norte); refugiado, ele fugiu do Congo por problemas familiares para realizar seu sonho: jogar futebol no Brasil

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