Agora

Pra frente, Brasil!

- Vitor Guedes é jornalista, ZL, equilibrad­o e pai do Basílio

Anos 1980. Antes do primeiro porre, “cocktail” de frutas era no “4”, com o Miele. Atari, cartela laranja de fichas da Telesp e aparelho de som com duplo deck eram as coisas mais modernas no pré-tinder. Sem “xvideos” e com a Barsa fazendo as vezes de Google, o tímido préadolesc­ente sofria para visualizar um mamilinho e curtir o lado cor de rosa da vida. Entre uma apertada no Aquaplay e um solitário clássico de botões na sala (de estar, não “Sala Especial”, que fique claro) feitos com escudos recortados da Placar, o máximo que ele arriscava no sobrado da avenida Damasceno Vieira era esperar os pais dormirem para descer as escadas do sobrado pé-ante-pé, rodar o seletor, que morava no “5”, devagar, sem fazer barulho, para colocar no “9” e curtir, dependendo da sorte e do capítulo, os peitos da Dona Beija na Manchete. Como nádegas é fácil para corinthian­o, às vezes a câmera dava close na retaguarda do Paulo Gracindo Júnior. A paixão vivida na Vila Mascote pela personagem de Maitê não foi um amor tão arrebatado­r e duradouro quanto o vivido, três anos depois, já no tubão de 20 polegadas da Saúde, pelos bicos mais arroxeados de Isadora Ribeiro. Arrebite, arrebita. Enquanto os caminhonei­ros se dividiam entre Collor e Lula, o jovem era 100% aquela boca carnuda de abertura de Tieta. Não queria ser Romário, Bebeto, muito menos Lazaroni... O sonho do garoto mesmo era ser Hans Donner por um dia... Sobrava apetite, faltava oferta. Como agora, sem caminhão, falta verdura, naquela época os fiscais do Sarney avisavam quando chegava carne, racionada, no Peralta do bairro. Só não mudou o preto, à Zenon, do bigode do Sarney. Voltando aos caminhões, ah se uma rua deserta da Martin de Sá, em Caraguá, falasse. Férias é vida. O primeiro baile na carroceria de caminhão, com a regra da vassoura na música lenta, foi sensaciona­l. Acima da placa “Lalá ficou Lelé porque Lili deu o loló para Lulu”, ele não quis saber de paralisaçã­o. Nem se arriscar na banguela. Havia fartura de carne, melões e dentes no par. Sem ou com caminhão, o medo é o futuro não repetir o passado só no futebol. Sem intervençã­o. Mais amor, mais melões, mais vassourada, menos imbecis que clamam pelo atraso do passado. Pra frente, Brasil!

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