Burocracia barra morador de rua em abrigo municipal
Unidades exigem encaminhamento que é emitido por agentes da assistência social da prefeitura
Em busca de local aquecido para passar a noite, em especial com a intensificação do inverno, moradores de rua que tentam acolhimento nos abrigos da Prefeitura de São Paulo, sob gestão Bruno Covas (PSDB), estão sendo barrados pela burocracia.
Sentado na calçada quase em frente ao abrigo da prefeitura no vale do Anhangabaú, na região central, Vitor Hugo Pacheco, 22, conta que foram raras as noites que conseguiu trocar as calçadas por uma das 116 camas no endereço. “Nunca tem vaga”, diz ele, que vive nas ruas desde os 16 anos.
Em recente tentativa, ele conta que não conseguiu uma vaga para dormir, mas, ao se distanciar da porta após insistir com o segurança para deixá-lo entrar, viu um cobertor ser lançado pela janela do abrigo por um dos ocupantes que se solidarizou com sua situação. “Não passei tanto frio naquela noite.”
Assim como Pacheco, a reportagem presenciou outros sem-teto bateram na porta do CTA (Centro Temporário de Acolhimento) Anhangabaú impedidos de entrar.
O segurança que fica na porta é orientado a exigir a apresentação do encaminhamento, um papel distribuído por funcionários da secretaria de Assistência Social que circulam pelos pontos com maior concentração de moradores de rua. Os papéis são distribuídos de acordo com a quantidade de vagas disponíveis nos abrigos e, sem a autorização, quem bate na porta é orientado a buscar outro lugar a dormir.
A exigência tem sido mantida mesmo durante as madrugadas com temperaturas abaixo dos 6˚C que têm sido registradas na capital.
Há dez dias dormindo nas ruas, após ver frustrada a promessa de emprego pela qual trocou a cidade de Vitória (ES), onde morava, por São Paulo, o vendedor Jerônimo Mora Filho, 67, vai todos os dias em busca do tal encaminhamento para poder dormir no CTA Anhangabaú. “Sei que tenho preferência por ser idoso, mas muita gente fica sem vaga.”
A assistência social na capital apresenta gargalos há anos no acolhimento de certo perfis de sem-teto, especialmente famílias.