Guerra na antiga Iugoslávia moldou jogadores croatas
Euforia do estreante em finais de Copa do Mundo passa pelo sofrimento familiar dos principais atletas
Moscou “Somos um povo criado por uma guerra, por isso estamos na final”, dizia Zlatan Bobic, um torcedor croata após a histórica semifinal de Copa na qual a seleção de seu país derrotou a Inglaterra por 2 a 1.
Para o bem e para o mal, ele tem razão. A Croácia, estreante em finais de Copa e que enfrenta a França no domingo, é marcada pela dolorosa separação da antiga Iugoslávia, em 1991.
O reflexo em campo é inevitável —o próprio técnico Zlatko Dalic atribuiu a dedicação em campo a um forte nacionalismo. Ao menos quatro jogadores vitais do time tiveram as vidas moldadas pelo conflito, que de uma forma ou de outra impactou os 23 atletas croatas.
A estrela do elenco, o meia Luka Modric, do Real Madrid, é um deles. Quando a guerra chegou à área da Dalmácia, no fim de 1991, sua casa foi atacada por milicianos da minoria sérvia da então Croácia iugoslava. Seu avô foi morto, e a casa, incendiada.
O então garoto de seis anos passou os 20 anos seguintes morando no Kolovare Hotel, em Zadar, como refugiado.
Mandzukic, autor do gol que pôs a Croácia na inédita final, é outro. Nascido em 1986 em Slavonski Brod, o atacante da Juventus via a vizinha Bósnia logo ao lado.
Era só um país, a Iugoslávia, reformada como república socialista em 1945, após a derrota das forças nazistas.
As tensões, contudo, foram sempre presentes —fascistas croatas mataram cerca de 600 mil sérvios. Quando a carnificina na Bósnia começou em 1992, a proximidade da fronteira deu o pretexto para o pai do jogador, Mato, mudar para a Alemanha. Os Mandzukic estimularam Mario a entrar na base do time local, onde seu pai jogava.
Parecia a vida perfeita, mas em 1996 o governo alemão negou a nova extensão de permanência no país.
Mandzukic voltou à Croácia, já livre da guerra, e acabou no Dínamo de Zagreb.
Em 2012, quando jogava no Bayern de Munique, protagonizou polêmica ao fazer uma saudação nazista em campo —explicou depois que celebrava a absolvição de dois generais croatas acusados de crimes de guerra.
Outro que fugiu da guerra bósnia foi o zagueiro Dejan Lovren, do Liverpool, cuja família emigrou para a Alemanha em 1991, quando ele tinha dois anos. Para o treinador croata Zlatko Dalic, o nacionalismo é a cola que une o time. “É o nosso combustível”, afirmou.