Crivella na berlinda
Num verdadeiro circo, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro recusou na quinta-feira (12) dois pedidos de abertura de processo de impeachment contra o prefeito Marcelo Crivella (PRB).
Os requerimentos foram apresentados pelo PSOL e pelo vereador Átila Nunes (MDB), depois de o jornal O Globo ter publicado conteúdo de áudios gravados durante encontro do prefeito com pastores e líderes de igrejas evangélicas.
Na reunião, Crivella se comportou mais como de irmão de fé do que como autoridade. Falou em facilitar o acesso de fiéis a cirurgias em hospitais públicos e prometeu dar rapidez a pleitos de isenção de cobrança de IPTU em benefício de igrejas.
É claro que ele tem direito a sua crença. Mas um prefeito, como qualquer outro governante, não pode privilegiar ninguém por esse motivo.
Com equívocos desse tipo, Crivella tem deixado flanco aberto para a oposição, que aproveitou a oportunidade do escândalo para uma ofensiva barulhenta, mas pouco consequente.
Não houve acordo sobre o impeachment nem mesmo entre as siglas contrárias à administração. O PSOL apoiou. O PT, não.
A tentativa de afastar um governante eleito parece de fato exagerada diante das circunstâncias. Embora as atitudes dele sejam reprováveis, o impedimento é uma solução traumática que só deve ser aplicada em casos extremos.
Manifestantes favoráveis e contrários à proposta compareceram à sessão, que registrou entre outros momentos deploráveis o vereador evangélico Otoni de Paula (PSC) fazendo gestos ofensivos aos oponentes e à comunidade LGBT.
Não foi, por certo, uma jornada das mais felizes.