Ex-ministro propõe delação após suspeita de corrupção
Estratégia buscaria evitar novas medidas cautelares, como ordem de prisão e eventual denúncia
Afastado do Ministério do Trabalho por suspeita de integrar esquema de corrupção e fraudes para liberação de registros sindicais, o ex-ministro Helton Yomura decidiu colaborar com a Operação Registro Espúrio.
Anteontem, ele e seus advogados procuraram a Procuradoria-geral da República e se propuseram a entregar voluntariamente informações e documentos sobre os processos alvo da apuração.
A aproximação com os investigadores busca evitar novas medidas cautelares contra o ex-ministro, como uma ordem de prisão, e, mais adiante, eventual denúncia. No último dia 5, ele foi suspenso de suas funções e proibido de ter contato com outros investigados. Horas depois, pediu demissão.
Interlocutores do ex-ministro negam que a iniciativa vise a um delação premiada, dizendo que ele não tem crimes a confessar. Mas admitem que há potencial para implicar as cúpulas do PTB, partido ao qual é ligado, e do Solidariedade. As duas legendas controlavam o Ministério do Trabalho.
As tratativas com a PGR estão em fase inicial. Segundo relatos, os investigadores manifestaram interesse em mais detalhes sobre pedidos feitos pelo ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo) no Trabalho.
A PGR informou que não se pronuncia sobre eventuais negociações de colaboração.
A Polícia Federal sustenta que integrantes da pasta fraudavam processos de registro sindical para beneficiar, por solicitação do ministro, entidades de Mato Grosso do Sul, sua base eleitoral. Marun nega.
Caso as negociações prosperem, Yomura também poderá falar sobre demandas de outros políticos com trânsito na pasta. Ele é próximo do presidente do PTB, Roberto Jefferson, e da filha dele, deputada federal Cristiane Brasil (RJ), que o indicaram para a chefia do ministério.
Com base no teor de mensagens interceptadas, a PF o acusa de atuar como um fantoche de Cristiane e do pai, atendendo a pedidos de manipulação de processos no ministério e de nomeação de servidores alinhados com o suposto esquema criminoso.
A defesa de Yomura não se manifestou.