Promessas de Bolsonaro contradizem suas votações
Candidato do PSL tem ganhado simpatia do mercado por seu discurso, mas sempre votou de outro jeito
O candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro (PSL), ganhou a simpatia do mercado financeiro graças às promessas de apoio ao ajuste fiscal. Uma análise detalhada de suas votações no Congresso revela, porém, convicções diferentes ao que ele vem sustentando.
Em 27 anos como deputado federal, ele votou contra principais tentativas de reforma da Previdência e contra as grandes privatizações, como o fim do monopólio do petróleo e o das telecomunicações nos anos 1990.
Ao mesmo tempo, apoiou benefícios aos servidores, isenções fiscais a setores específicos e medidas que elevavam o gasto público, mesmo em períodos de restrição orçamentária.
Quando questionado sobre o assunto, o líder nas pesquisas de intenção de voto costuma responder que sua fama de “estatizante” vem de sua oposição ao Plano Real, que estabilizou a moeda em 1994.
E diz que se converteu após conhecer seu “guru” Paulo Guedes, economista egresso da Universidade de Chicago, tradicional reduto liberal.
Em 2007, Bolsonaro votou a favor do fim da CPMF, o “imposto do cheque‘” que Guedes, seu futuro ministro da Fazenda, cogita recriar.
Mesmo no governo de Michel Temer, quando suas ambições presidenciais já estavam claras, suas posições continuaram ambíguas.
Bolsonaro votou a favor do teto de gastos em 2016, mas, depois deu seu aval para o Congresso apreciar em regime de urgência a criação de centenas de municípios— medida que, se aprovada, certamente elevará as despesas públicas.
Em abril de 2017, o deputado votou a favor da reforma trabalhista, mas, em maio do ano seguinte, disse não ao cadastro positivo.
A campanha de Bolsonaro não respondeu as perguntas da reportagem.