Mudança de currículo esbarra em trocas de professores
Cidade de São Paulo vira laboratório para testar padrões da nova regra do ensino fundamental no país
Nova norma federal exige que a partir do ano que vem as escolas fundamentais públicas e particulares do país comecem a alinhar seus currículos. A rede municipal de São Paulo, que possui quase meio milhão de alunos nessa etapa, foi a primeira a adotar os novos padrões.
Ao longo deste 2018, a reportagem acompanhou escolas, professores e gestores da rede de ensino sob a gestão dos prefeitos João Doria e Bruno Covas (ambos PSDB).
O documento nacional norteador, chamado Base Nacional Comum Curricular, foi discutido e aprovado durante os governos de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB). Ele é visto por gestores e especialistas como uma das principais medidas para melhorar o ensino do país, onde 70% dos alunos se formam no ensino básico, aos 17 anos, sem o conhecimento esperado em português.
Parte das redes de ensino já possuem currículos próprios. Cada um pode ter seus próprios objetivos e metas. Mas há reclamações sobre a estrutura para implementação do documento. E a rotatividade de professores e diretores é algo preocupante.
Na escola Pedro Aleixo, por exemplo, das 5.112 aulas a serem dadas pela manhã em 2018, 30% tiveram de ser substituídas e 3% ficaram sem qualquer docente.
O colégio é um dos melhores da rede pública da zona leste e tem notas acima da média do sistema municipal.
Em muitos casos, o substituto disponível não é da área do professor faltante. Assim, em aulas de história e português, por exemplo, entrou um professor de geografia. Era o que estava disponível.
As ausências acontecem por diversos motivos. Professores podem faltar até 10 dos 200 dias letivos, sem que haja desconto no salário (basta a justificativa ser aceita). Há também ausências de maior prazo. São 11 tipos de licenças previstas, como para “tratar de assuntos particulares”, médica ou para acompanhar familiar doente.
Existem ainda aposentadorias de docentes e de diretores, que deixam o posto com o ano letivo em curso.
Levantamento feito pela reportagem com base na folha de pagamento da rede mostra que 20% dos professores que começaram o ano letivo de 2018 não estavam mais na escola quatro meses depois.