Agora

Meninos e monstros

- Luís Marcelo Castro

Deyverson é um menino de 27 anos. Quando jogava peladas descalço com os amigos nas ruas de terra do bairro pobre de Santa Margarida, no Rio, onde não havia rede de esgoto, ruas asfaltadas e atendiment­o médico decente, nunca imaginou que um dia seria o autor do gol do deca palmeirens­e e que entraria para a história do clube.

Provocador, irreverent­e e inconseque­nte, o menino Dey —ou MC Deyvinho— já irritou corintiano­s, santistas, árbitros e até seus próprios companheir­os, como o capitão Bruno Henrique, que cobrou dele mais seriedade em campo. Deyverson deu piruetas ao cavar uma falta contra o Sport e simulou uma TV de 50 polegadas ao pedir árbitro de vídeo diante do Boca. Explosivo, acumulou expulsões.

Quando Deyverson era garoto, seu pai, Carlos Roberto, deixava de comer e de comprar roupas para que os filhos não passassem fome e para que o garoto tivesse dinheiro para pegar ônibus e ir aos treinos. Seu outro pai, Felipão, que o ajudou a deslanchar no Palmeiras neste ano, explicou que o polêmico atacante “tem uma chavezinha ali que não funciona”. Mas conquistou a torcida com a alma alegre de garoto.

“Neymar é um menino”, insistem os treinadore­s e colegas mais próximos do milionário jogador de 26 anos —embora até o Rei Pelé já tenha desistido de defender suas indefensáv­eis atitudes.

Rodeado de parças, o menino Ney vive em uma bolha que o isola das críticas. Talvez por isso não entenda por que virou piada na Copa e amargou o 12º lugar entre os melhores na Bola de Ouro.

Rejeitado por torcedores de Santos e Barcelona por abandoná-los, precisa de um incentivo em euros para aplaudir os do PSG.

“Estamos criando um monstro”, advertiu o técnico Renê Simões, ainda em 2010, quando nosso maior craque era adolescent­e. Deu no que deu.

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