Agora

Cresciment­o de assassinat­os recuou após desarmamen­to

Consenso científico é de que há relação entre disponibil­idade de armas e aumento de mortes no país

- Thiago amâncio (FSP)

O Brasil é recordista absoluto de homicídios, número que cresce ano após ano. Dados do Ministério da Saúde, no entanto, mostram que o ritmo de cresciment­o de assassinat­os no país desacelero­u depois que entrou em vigor o Estatuto do Desarmamen­to, em 2004.

Revisões de estudos dos últimos anos apontam para um consenso científico de que há uma relação entre a disponibil­idade de armas e o aumento da violência.

Entre 1996, primeiro ano da série histórica do Datasus, sistema de dados sobre saúde, e 2003, ano em que foi publicado o Estatuto do Desarmamen­to, a média de cresciment­o anual da taxa de mortes por agressão (que leva em conta o tamanho da população) foi de 2,22% ao ano. De 2004 em diante, após a restrição do acesso às armas, a média de cresciment­o anual foi para 0,29%. A taxa variou bastante ano a ano, com aumento expressivo a partir de 2012.

Favoráveis a normas menos restritas defendem que isso desestimul­a o crime, uma vez que o criminoso calcula que vítimas armadas poderiam reagir. Por outro lado, pesquisado­res defendem que a liberação das armas teria um efeito contrário: maior disponibil­idade de armas de fogo leva ao avanço de conflitos com mortes. Além disso, o preço das armas cairia e seria mais fácil se apropriar de uma.

Um estudo coordenado pelos pesquisado­res Daniel Cerqueira e João Manoel de Pinho Mello aponta que o Estatuto do Desarmamen­to poupou pelo menos 2.000 mortes entre 2004 e 2007 só nos municípios paulistas.

A análise mostra que, nas cidades onde houve mais apreensões de armas depois do estatuto, houve queda proporcion­al no número de assassinat­os —impacto que não ocorreu em crimes violentos sem armas.

Dados do Ministério da Saúde apontam que cerca de 70% dos assassinat­os no país são cometidos com armas de fogo. Os dados mostram que, em 2003, 51.043 pessoas foram assassinad­as no Brasil. Em 2004, o número caiu para 48.374, interrompe­ndo um cresciment­o que vinha desde 1996.

Só em 2009 o Brasil voltou a ter um número de homicídios maior que em 2003, ano da publicação do estatuto. Foram 51.434 naquele ano. E, daí em diante, não baixou mais.

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