Longe do paraíso
Cigarro. Bebida. Tensão.
Aos 60 anos, o perigo está na porta.
O sr. Vilela recebeu a má notícia.
Coronárias entupidas. –Vou ter de operar? Era o momento de admitir.
–Nunca liguei para essas coisas de saúde.
A mulher dele concordava.
–Vivendo na farra... deu nisso. A cirurgia foi bem. Mas a cicatrização estava difícil.
–O senhor fica mais dez dias no hospital.
Vilela tentava se conformar. –Quanta saudade... Baladas. Gandaias. Carnavais.
–O baile do Clube Espéria...
A memória era precisa.
–Baticum, baticum... ole-re-iê.
Ele acordou com a música animada. –Ué. Já morri? Não era o paraíso. Era o quarto de cima no hospital.
Um famoso corrupto dançava descalço.
–Quem disse que ele estava doente?
Por vezes, é um país que entra na UTI.
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