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Maioria dos roubos não é em local onde arma é permitida

Em São Paulo, apenas 2,5% dos casos ocorrem em residência­s e 5,9% são em comércios

- Fábio fabrini artur rodrigues

No mais populoso estado do país, parcela mínima dos crimes violentos ocorre no interior de casas e comércios. Dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo mostram, por exemplo, que 2,5% dos roubos foram em residência­s e 5,9% em locais como lojas em 2017.

De janeiro a novembro de 2018, período mais recente disponibil­izado, foram de 2,3% e 5%, respectiva­mente. Os percentuai­s desse crime específico variaram pouco desde 2014, início da série histórica divulgada pelo governo paulista.

Os números põem sob questionam­ento o alcance do decreto que facilita a posse de armas, assinado anteontem pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), para a redução da criminalid­ade. É nas ruas do estado onde o cidadão comum não poderá empunhar armas de fogo, caso não tenha o porte que se dá a maior parte dos crimes: cerca de 80% dos assaltos.

Especialis­tas contrários à facilitaçã­o do armamento afirmam que a maior quantidade de revólveres e pistolas, entre outros, em circulação vai aumentar a violência, pois eles são, tradiciona­lmente, facilmente desviados para o mercado informal e caem nas mãos de bandidos. Além disso, a possibilid­ade de reação das vítimas favoreceri­a desfechos letais em situações de invasão a casas e comércios.

Os que advogam pela flexibiliz­ação argumentam que a autorizaçã­o deveria ser mais ampla, ampliando o direito ao porte (andar armado nas ruas), justamente porque parte pequena dos crimes se dá em ambientes fechados.

“É um ganho real você contar com a arma para defesa da sua casa, do seu sítio”, diz Benê Barbosa, do Movimento Viva Brasil, acrescenta­ndo que a liberação do porte que depende de aprovação do Congresso agora “é o caminho natural”. O decreto, diz, é tímido.

“Muito provavelme­nte, vai haver um incentivo [à criminalid­ade], as taxas já são altas. As forças de segurança sabem disso. Estamos entregando um arsenal de bandeja para o público”, afirma o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, responsáve­l pelo Mapa da Violência no Brasil.

No total, houve 295 mil roubos no estado entre janeiro e novembro de 2018. Em 251 casos ou 0,08%, esses ataques acabaram em morte (latrocínio­s).

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sobre o decreto na pág. A4

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Pilar Olivares/reuters ■ Homem pratica tiro em um estande no Rio de Janeiro; crimes ocorrem menos dentro de casa

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