Técnica sonha em treinar time masculino
Emily Lima, 38 anos, não se conforma com padrões e não está disposta a colaborar para aumentar a extensa lista de clichês no futebol. A técnica do time feminino do Santos quer mudanças.
De contrato renovado após uma temporada de redenção no clube, tendo conquistado um título paulista e o vicecampeonato da Libertadores, Emily deseja abrir novos mercados para as mulheres que trabalham no futebol.
Como a maioria dos profissionais, ela sonha em fazer carreira na Europa, mas antes gostaria de ter a oportunidade de treinar um time masculino no Brasil.
“Alguns gestores já me perguntam se aceitaria o desafio. Estão observando que estamos no mercado e que pode ser algo inovador. Temos que saber que a pressão será grande e diferente, certamente ouviremos coisas como ‘viu, foi tentar uma mulher’. Se houver uma boa oportunidade não vou negar”, afirmou.
No Brasil, o presença mais recente de uma mulher treinando uma equipe masculina foi Nilmara Alves, que comandou o Manthiqueira na quarta divisão do Paulista e na Copa São Paulo.
Em dezembro, Emily foi a única mulher em uma turma de 65 técnicos que fez o curso de Licença Pro da CBF, a mais alta certificação para a categoria no Brasil.
“Vivemos em um país machista e preconceituoso. Poderia ter mais técnicas? Sim, se tivéssemos uma cultura diferente”, afirmou.
“A pergunta, por sinal, não deveria ser o motivo de só haver uma mulher no curso, mas, sim, quantos homens que trabalham no futebol feminino tem Licença A ou Pro?”, comentou. A partir deste ano, o diploma será exigido para técnicos de equipes que disputam a Série A do Brasileiro masculino.
Na edição de 2018, fizeram o curso Tite, Dunga e Mano Menezes, 3 dos 4 últimos técnicos da seleção.
“É um curso muito rico e qualificado. Entre os técnicos, fui muito respeitada. Todos me chamavam pelo nome e me ouviam, até os renomados. Acredito que o conhecimento não ocupa espaço. Ocupa tempo? Sim. Vim depois de mais de um mês fora de casa. O esforço tem um motivo: quero colher os frutos”, disse Emily.
Em outro curso promovido pela CBF, o da Licença A, havia somente três mulheres.
“Não culpo ex-atletas nem as mulheres. Precisamos colocar comida na mesa e pagar contas. Tenho boa base familiar e financeira, mas nem todas têm. Elas têm que trabalhar, cuidar de filhos. O futebol feminino, muitas vezes, não paga contas.”
Emily já rompeu outras barreiras. Tornou-se a primeira mulher a comandar a seleção brasileira feminina. A passagem, porém, ficou mais marcada pela saída rápida do que pelo trabalho. Sua passagem foi encerrada em setembro de 2017, com dez meses e 13 jogos —teve 56,4% de aproveitamento.
Ela disse na época ter se sentido usada pela entidade.
Como jogadora, Emily fez carreira no Brasil, em clubes paulistas como Saad, São Paulo e Palestra de São Bernardo. Na Europa, atuou na Espanha e no Napoli-ita.
“Temos uma nova boa geração e não vão trabalhar? Precisamos lutar para fazerem um campeonato mais competitivo”, afirmou. “Falta muito quem brigue pelo futebol feminino.”