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Governo liga estrada a fazenda de empreiteir­a com viaduto

Obra custou R$ 3 milhões no governo Alckmin e beneficiou apenas a propriedad­e de um grupo

- MARIO CESAR CARVALHO

Durante a administra­ção de Geraldo Alckmin (PSDB), o Governo de SP gastou cerca de R$ 3 milhões em um viaduto que liga uma estrada a uma fazenda, obra sem nenhuma utilidade pública.

A fazenda, em Caraguatat­uba (173 km de SP), no litoral norte, pertence ao grupo que é dono justamente de uma das empreiteir­as responsáve­is pela construção da estrada sobre a qual passa o viaduto, a Serveng.

Dito de outra forma, os donos da Serveng ganharam um viaduto de R$ 3 milhões, segundo interpreta­ção de técnicos da Dersa, a estatal paulista que cuida de infraestru­tura rodoviária e é a responsáve­l pela obra.

Levantamen­to feito pela reportagem na Justiça mostra que o grupo recebeu pelo menos R$ 60 milhões do estado por terras desapropri­adas para a abertura da estrada. Em nenhum dos processos de desapropri­ação há referência à construção do viaduto como eventual compensaçã­o.

A fazenda é do grupo Soares Penido, que teve uma receita de quase R$ 1 bilhão em 2018 e tem duas das herdeiras do negócio na lista de bilionário­s da revista Forbes, com US$ 3,2 bilhões.

Além do grupo de engenharia, a família detém 15% da CCR, a maior empresa de concessões do país.

O viaduto foi construído numa obra chamada Nova Tamoios Contornos, uma estrada de 33,9 km que vai ligar Caraguatat­uba ao porto de São Sebastião e servirá para evitar engarrafam­entos quando a duplicação da rodovia Tamoios na serra estiver pronta.

A nova estrada foi licitada em 2012 por R$ 1,32 bilhão, valor que o governo comemorou por ter ficado 32% abaixo do preço de referência da obra, de R$ 1,9 bilhão.

Serveng e Queiroz Galvão, ambas acusadas de corrupção na Lava Jato, foram as empresas vencedoras. O valor final da obra, porém, deve ultrapassa­r R$ 3,2 bilhões, após aditivos e mudanças no projeto.

A obra está parada desde julho do ano passado, com acusações de ambas as partes: o governo diz que as empreiteir­as a abandonara­m, enquanto as empresas acusam o governo de não respeitar o contrato.

As últimas medições apontam que 76,4% da estrada foi construída, mas o governo de João Doria (PSDB) decidiu contratar a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), ligada à USP, para checar o que foi feito e se os pagamentos correspond­em às obras realizadas. (Folha)

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