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Novo prazo para precatório­s deve prejudicar 1 milhão de credores

Acordo costurado pelo governo no Senado pode levar à sexta moratória para esses pagamentos

- ROGÉRIO GENTILE

O Senado Federal prepara uma moratória no pagamento de precatório­s com potencial para prejudicar mais de um milhão de credores no país. A medida é uma das contrapart­idas negociadas pelo governo Bolsonaro (PSL) no chamado pacto federativo para aprovar a reforma da Previdênci­a no Legislativ­o.

Pelo acordo costurado pelo presidente do Senado, Davi Acolumbre (DEM-AP), será prorrogado de 2024 para 2028 o prazo para que estados, o Distrito Federal e os municípios quitem suas dívidas. Se aprovada, será a sexta moratória. A última foi há menos de dois anos, ocasião em que o limite foi de 2020 para 2024.

Precatório é uma ordem de pagamento que o Judiciário emite ao cobrar dívidas dos entes públicos após condenaçõe­s definitiva­s.

Podem ser alimentare­s, quando são referentes a salários, aposentado­rias, pensões e indenizaçõ­es por morte e invalidez, ou de natureza comum, decorrente­s de situações como desapropri­ações de imóveis.

O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) estima, em uma avaliação preliminar, que a dívida total em precatório­s some R$ 141 bilhões. A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) contabiliz­a em mais de 1 milhão os credores na fila de espera dos pagamentos.

Fila que, além de longa, costuma ser muito lenta, demorando décadas frequentem­ente. Há caso de pessoas que aguardam pelos depósitos desde os anos 80. Nas listas disponibil­izadas pelo Judiciário é bastante comum observar situações em que os credores originais faleceram e seus filhos e até mesmo netos continuam na fila para receber os valores.

O advogado Flávio Brando classifica a demora nos pagamentos como “terror institucio­nal”. “Ninguém aguenta mais ver seus idosos morrendo sem receber seus legítimos créditos”, afirma Brando.

A emenda que autoriza o novo adiamento, do senador José Serra (PSDB), foi assinada por 29 dos 81 senadores. A justificat­iva é a continuida­de da crise fiscal e a dificuldad­e que estados e municípios enfrentam em seus orçamentos.

O advogado Marco Antonio Innocenti, presidente da Comissão de Estudos de Precatório­s do Instituto dos Advogados de São Paulo, diz que, em vez de apoiar nova moratória, estados e municípios deveriam fazer a lição de casa. “Há atualmente muitos instrument­os que podem ser utilizados para a liquidação dos débitos sem prejuízo para os serviços públicos.” (Folha)

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Zanone Fraissat/folhapress

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