Lugano mexe com os brios de Daniel Alves e ajuda o Tricolor
Ex-zagueiro conta a provação que fez o lateral-direito deixar a Europa e acertar com o São Paulo
Não convide Diego Lugano, 38 anos, para sentar-se em frente a uma televisão e ver a partida final do Mundial de Clubes de 2005.
No jogo guardado na memória do uruguaio, o São Paulo venceu o Liverpool por 1 a 0, mas sofreu. Foram 17 finalizações do time inglês contra 4 são-paulinas, 17 escanteios ante zero, 49 cruzamentos versus 7.
Foi ele o responsável por iniciar as conversas com Daniel Alves e Juanfran para eles jogarem no São Paulo.
Diz ter jogado uma semente na cabeça do capitão da seleção brasileira ao mexer com os seus brios.
“É fácil ser campeão ao lado de Messi e Neymar. Quero ver se tem colhão mesmo de assumir a responsabilidade”, provocou Lugano.
Como você participou na vinda do Daniel Alves?
Eu fui lá na França, conversei e joguei a semente nele. Isso foi uns três ou quatro meses antes de começar a Copa América. Depois fui com o Raí novamente. Eu sentia que o São Paulo ia precisar desse tipo de jogador. Primeiro, porque não tínhamos um lateral direito. E também pelo nível, a mentalidade. E ele ainda torcia para o São Paulo.
O que foi essa semente que você diz ter plantado?
Foi depois de um jogo do PSG na França. Falei para o Daniel assumir o maior desafio da vida dele. Ele tem 40 títulos, é o maior da história, mas falta uma conquista. “Você tem o desafio de ganhar um título na sua terra”, eu disse. “O São Paulo é um time gigante que está com pressão e não consegue relaxar. E você pode ser essa figura.” Ele aceitou.
Você esperava que ele pudesse deixar a estabilidade da Europa?
Ele tem “colhões”, né? Eu desafiei ele. É fácil ser campeão ao lado de Messi e Neymar. Quero ver se pode assumir a responsabilidade. Quando chegou aqui, ele falou: “Viu que eu vim mesmo?” Ele é um cara sensacional. Qual a sua relação com os jogadores do São Paulo?
Meu relacionamento não é diário com os jogadores. Fui companheiro como atleta da maioria deles. Se tivesse um relacionamento direto com eles, eu teria que tomar decisões. Como não participo, não quero ficar influenciando muito. Mas procuro ajudar com a minha experiência. Procuro manter distância.
Mas pela sua história no clube não seria o caso de ter uma participação maior com eles?
Aqui no São Paulo eu era conhecido por ser muito chato com algumas coisas. Eu achava que vestiário era para ficarem só jogadores e o treinador. Por que mudar agora? Mas isso não quer dizer que eu não esteja pronto para ajudar os jogadores. Só que eu espero que eles venham até mim. Eu nunca tomo a iniciativa. Mas muitos jogadores vêm pedir consulta. E são perguntas de todos os tipos, de emocional, do clube, do que está acontecendo.
Você vê diferenças na geração atual, comparado com a sua época de começo de carreira?
Totalmente diferente. Hoje é cheio de influencers, youtubers, informações digitais, fake news. E não é só no futebol, a sociedade em geral. O futebol está inserido nisso. Hoje o jogador é uma empresa, tem assessor de imprensa, existem conselheiros para tudo. Isso é bom por um lado, porque protege, mas muitas vezes o atleta também deixa de tomar decisões, ter uma participação ativa sobre a sua carreira.
E qual a diferença do jogador brasileiro para o uruguaio? Lá você liderou um movimento dos atletas...
Fizemos um movimento que teve 100% de participação dos jogadores pelos nossos direitos. O Brasil já teve muitos movimentos de jogadores que querem o melhor, são pensadores, altruístas. Mas a dificuldade é que o Brasil é muito grande. Difícil unir os estados, as culturas são diferentes.
E o cenário político no Brasil. O que você acha?
Eu acompanho tudo. Moro a cinco quadras da avenida Paulista. Sempre que tem manifestação, tanto favorável ou contrária ao governo, eu vou. Coloco um chapéu, dou uma disfarçada e vejo o que está acontecendo. Gosto de saber a opinião das pessoas. Não vou dar a minha opinião porque para o São Paulo não é bom que eu fale sobre isso.
O que você pretende fazer no São Paulo?
O São Paulo não deveria ficar atrelado ao futebol. Poderia ir além, com cultura e outras coisas. Mas é uma utopia, pois todo o trabalho depende muito da bola entrar ou não entrar, do que acontece dentro de campo.
Sobre a fase áurea de 2005, é verdade que você não consegue ver jogo sobre o Liverpool na final do Mundial de clubes?
Nunca mais assisti àquele jogo. Eu fico muito nervoso. Acho que a bola vai entrar e eles vão empatar o jogo. Não consigo explicar. Talvez seja uma autodefesa. Prefiro celebrar o que a gente desfrutou do jogo. Foi um tempo muito bom. Um grupo muito unido e que sabia bem o que queria conquistar.