Agora

Você tem fogo?

- Marcos.guedes@grupofolha.com.br

Acantada está mais obsoleta do que o primeiro espartilho de Sarah Bernhardt. Mas houve um tempo, nem tão distante, em que pedir um isqueiro era senha de aproximaçã­o, pretexto para provocar faíscas.

Funcionava sobretudo quando era tabu a mulher tomar a iniciativa, uma época em que era quase impossível ir a qualquer evento e não voltar defumado, exalando nicotina e alcatrão. Tudo soa estranho hoje, especialme­nte se o leitor observa que esse cenário foi desfeito com a participaç­ão decisiva de Paulo Maluf.

Mas a questão aqui é mais a chama do que o Doutor Paulo. Calor e luz, ardor e brilho, o fogo é metáfora de tudo o que é poderoso.

Goste de Luís de Camões ou seja um apreciador de Ara Ketu, você provavelme­nte conhece a labareda do sentimento mais forte. Se “amor é chama que arde sem se ver”, “o fogo é fogo, esquenta o nosso amor”.

Este não é, porém, um espaço reservado para poesia da mais alta qualidade. A bola até pode ser um detalhe, mas precisa aparecer em algum momento.

Falemos, então, do “poder de fogo”, a alegoria usada no futebol para a capacidade ofensiva de um time. Há momentos em que esse poder cresce, como ocorre quando o estádio se incendeia e lança a equipe da casa ao ataque.

Era exatamente o que teria ocorrido quando o Internacio­nal fez 1 a 0 no Flamengo, na última quarta. Faltava um gol para a formação colorada levar aos pênaltis o jogo, pelas quartas de final da Libertador­es.

Surgiu, então, a abjeta figura do árbitro de vídeo, que reviu a jogada por inexplicáv­eis mais de cinco minutos. Era muito claro que não havia irregulari­dade no tento de cabeça de Lindoso.

O gol foi validado, porém a longa espera esfriou o caldeirão que tinha virado o Beira-rio. Foi um balde de água fria.

Cabem outras metáforas, mas não sou Camões nem Vitor Guedes, o poeta que você pode apreciar na página B2. Só sei que, como ele, eu não me conformo com o que está fazendo o juiz de vídeo com o futebol.

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