Agora

Casa feita por arquiteto famoso pode ser mais dif ícil de vender

Localizaçã­o conta mais, e falta de aspectos como suítes e churrasque­iras desanimam cliente leigo

- FRANCESCA ANGIOLILLO

A casa que Oscar Niemeyer (1907-2012) projetou para o designer Marco Antônio Rezende no fim da década de 1980 está há venda há aproximada­mente um ano em Ilhabela (198 km de SP).

Tem certo ar de fazenda, em parte pelo telhado, em parte pelo enorme terreno que a circunda, transforma­do por Burle Marx (190994) em um jardim que dá na areia. É o último projeto assinado em conjunto pela dupla —brigados havia já muitos anos, trabalhara­m por separado no projeto.

Mas não encontra comprador, mesmo que o designer já tenha baixado de R$ 6,9 milhões para R$ 4,3 milhões o valor pedido pela residência de 350 m² em terreno de 2.700 m².

“O fato de ser uma casa do Niemeyer com jardins do Burle Marx não faz muita diferença”, lamenta o proprietár­io. “Pessoas que se motivam não têm dinheiro para comprar.”

Vender uma casa com “arquitetur­a de autor”, como dizem os corretores, depende de encontrar, na outra ponta do negócio, uma ave rara. É preciso que seja alguém com muito dinheiro e um amor tal por arquitetur­a a ponto de querer habitar um ambiente pensado para outra época e que, em muitos casos, não pode ser modificado, pelo projeto ou por tombamento­s de patrimônio histórico.

Rezende constata que hoje se “preferem casa com suítes, quartos e churrasque­ira, todo um aparato de outra natureza”. A casa dele tem três quartos; só um deles é suíte.

“Eu sou uma pessoa espartana e o Oscar fez uma casa espartana. As pessoas preferem algo que aparente um nível social diferente”, afirma.

“A localizaçã­o é sempre mais determinan­te que a assinatura”, diz Nuno Janeiro. Em São Paulo há oito anos, o arquiteto português trabalha há cerca de três anos e meio com imóveis de alto padrão.

A arquiteta Camila Raghi é sócia da Refúgios Urbanos, que tem em imóveis assinados seu principal filão. “Colocar preço em uma coisa que não tem preço é difícil”, afirma ela, ecoando a fala de Janeiro.

Raghi compartilh­a da visão de seu colega sobre localizaçã­o. “Certas regiões não aceitam valores altos.” Além da localizaçã­o, a conservaçã­o pesa muito. Segundo Raghi, de modo geral as casas se preservam melhor quando ficam nas famílias que as encomendar­am originalme­nte.

Há três imóveis projetados por João Batista Vilanova Artigas (1915-85) —um dos mestres de Mendes da Rocha— à venda na imobiliári­a de Raghi.

“Paulista quer suíte, closet. O público leigo, menos informado acha que essa arquitetur­a faz parte de outra época, não a vê como atemporal”, resume Nuno Janeiro. (Folha)

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Fernando Tomanik/divulgação Residência Taques Bittencour­t 2, no Sumaré, zona oeste de SP
 ?? Marcelo Orsi/divulgação Emiliano Hagge/divulgação ?? Residência Dalton de Macedo Soares, no Jardim Guedala, zona sul
Marcelo Orsi/divulgação Emiliano Hagge/divulgação Residência Dalton de Macedo Soares, no Jardim Guedala, zona sul

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