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A gente nunca teve com Neymar, diz auxiliar de Tite

Segundo Cléber Xavier, não é preciso falar 30 vezes que Neymar é um dos melhores do mundo

- CAMILA MATTOSO

Principal auxiliar de Tite na seleção brasileira, Cleber Xavier, 55 anos, é escalado pelo técnico para estar em todas as entrevista­s coletivas. Ouvir e responder perguntas de jornalista­s têm incomodado o número 2, que vê grande parte da imprensa como rasa, pobre e que busca polêmica.

“[O comportame­nto] Ou é raso, ou é agressivo ou é irônico. Ou é programa de palhaçada”, afirma o auxiliar à reportagem.

Invariavel­mente, ele e Tite são questionad­os sobre Neymar, ex-capitão do Brasil. A dupla nega que o atacante tenha privilégio­s.

Na seleção, Cleber é quase uma exceção quando o assunto é política. Quem convive com ele sabe de sua posição contrária ao presidente Jair Bolsonaro (PSL), que foi recebido com festa pela maioria dos atletas campeões da Copa América e posou para foto com eles.

Tite e Cleber não aparecem na imagem. “Nem percebi que eu não estava na foto”, afirmou. “Quem convida ele [Bolsonaro] para entrar lá é a direção da CBF”.

O que mudou na CBF desde o primeiro dia que você entrou lá até hoje?

A saída do Edu [Gaspar, ex-coordenado­r de seleções], a saída do Sylvinho e a saída do Fernando [Lázaro, ex-analista de desempenho da seleção]. A questão de condições de trabalho, a gente não tem uma queixa par fazer. Desde Marco Polo [Del Nero, ex-presidente da CBF] até agora com Rogério [Caboclo, atual presidente].

Parte da sua rotina é acompanhar o Tite na coletiva. Você gosta?

É natural para mim, parece que estou conversand­o. É um pedido do Tite, ele gosta de valorizar o grupo, é uma coisa dele, a gente acha legal. O que a gente não gosta é aquela coisa do enfrentame­nto, da pergunta agressiva.

Não é a pergunta, é a forma. A polêmica pela polêmica. A gente trata pouco do jogo. Tem surgido uma nova geração, com mais profundida­de. Mas em grande pedaço, a imprensa é agressiva ou é com programas de palhaçada. Isso me incomoda. A gente quer falar do jogo. Não se fala de ideias. Ou é raso, ou é agressivo ou é irônico.

Você se incomoda com as perguntas sobre o Neymar?

É um tipo de situação. ‘Neymar vai pra cá, vai pra lá’. A gente não sabe para onde o Neymar vai. A gente não quer a relação de interferir, com Neymar ou outro jogador, pra aconselhar onde ele deve ir. Quando ele chegar, a gente vai conversar sobre o jogo, que posição vai jogar, que função vai fazer, a condição que ele vai se apresentar. ‘Ah, mas ele não jogou’. Se a gente convocou, a gente tem certeza que podemos colocar ele em campo.

Mas o comportame­nto do Neymar está aprovado?

Faz três anos que a gente está na seleção e a gente nunca teve nenhum tipo de problema com ele.

Que time hoje você para para ver e observa alguma inovação?

Não tem inovação, o que existe é conceito. Times que jogam propondo um jogo agressivam­ente no campo do adversário, como o Fluminense do Fernando Diniz, o Santos do [Jorge] Sampaoli, o Manchester do [Pep] Guardiola, o Bragantino. Falei times de vários lugares. Times que jogam futebol mais reativo, mais atrás. Eu prefiro o equilíbrio. Prefiro o jeito que a gente joga. Mas isso não quer dizer que isso é bom e outro é ruim. Entra naquela coisa, ‘ah, o Guardiola é o melhor do mundo, antes era o Mourinho’. Não. Tem vários bons. Por que ele tem que ser o melhor do mundo? No Brasil é o Sampaoli, é o Carille, o Odair, tem vários. E de repente um melhor vira o pior. As análises são rasas.

Os jogadores tiraram foto com o presidente Jair Bolsonaro após a vitória na Copa América. Você e o Tite não apareceram. Foi pensado?

Eu nem percebi que eu não estava na foto. Meu foco era ganhar a Copa América. Eu fiz minha foto e saí. Mas quem convidou foi a diretoria da CBF.

Existia a possibilid­ade de Bolsonaro ir no vestiário. Incomodari­a?

O pai do Neymar foi no vestiário, convidado pelo Edu, e a gente concordou, porque o filho estava com problema, e virou polêmica. Se o presidente da CBF convida uma autoridade, é direito dele. O pai do Neymar foi lá e aí falam: ‘mas se todos os pais quisessem entrar?’. Nessa situação, todos seriam convidados. Como funcionári­o, não posso me manifestar e causar problema, dizer ‘esse é o meu presidente e esse não é’. Eu faço o meu trabalho. Mas se eu gosto ou se não gosto, é outra coisa.

Sobre o pai do Neymar, teve uma situação da família dele ter ficado no mesmo hotel da seleção brasileira na Copa do Mundo, diferentem­ente do restante. Isso teve algum impacto?

Falei agora da questão do pai do Neymar porque eu vi o pai do Neymar lá [no vestiário]. Na Copa, eu não vi, não sei se alguém convidou. Não teve um momento que nos atrapalhas­se. Essa polêmica, eu não vi. O Tite também não viu. Para nós, não houve essa situação. Se o cara que trabalha comigo também não viu, eu acredito nele.

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Eduardo Knapp - 20.jun.18/folhapress Ao lado de Tite, o auxiliar-técnico Cleber Xavier carrega os dois golzinho para armar o treino tático da seleção brasileira na última Copa do Mundo

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