Prefeito do Rio se vê injustiçado pela imprensa por ser evangélico
‘Tudo o que digo já traz a ideia de que ali está falando o bispo com posições bíblicas’, diz Crivella
O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), se diz um injustiçado pela imprensa por ser um bispo evangélico. Há alguns dias, chegou ao noticiário internacional após enviar fiscais à Bienal do Livro para recolher “Vingadores - A Cruzada das Crianças”, que mostra super-heróis homens se beijando. O Supremo Tribunal Federal vetou a operação. Em entrevista uma semana depois, disse que tomou a decisão não por causa do beijo, mas sim por diálogos que, a seu ver, ofenderiam o Estatuto da Criança e do Adolescente.
A prefeitura diz que zelou pelo cumprimento do ECA no caso da Bienal. O estatuto diz apenas que publicações com “material impróprio” devem ser embaladas, com advertência sobre o conteúdo. Por que inferir que um beijo de dois homens vestidos seria inadequado?
Não foi censura porque há previsão em lei. Não eram apenas as imagens, haviam diálogos, e eles sugeriam relações afetivas, não importa se homossexuais ou heterossexuais. Houve denúncias de famílias que se sentiram ofendidas. Agora, o que a imprensa não notificou é que demos um prazo para que se colocasse esses livros dentro da embalagem prevista. No dia seguinte, voltamos lá e disseram que tinham vendido tudo.
Peço licença para mostrar ao sr. estas imagens que circularam nas redes [beijos entre Mônica e Cebolinha já adolescentes e Branca de Neve e seu príncipe encantado]. Também seriam impróprias para menores?
Se o Cebolinha ou a Mônica, ou o príncipe e a princesa, tivessem dito o que falaram os personagens na “Cruzada das Crianças”, teria que ser embalado. O livro diz que um rapaz deveria rebolar o bumbum, coisas do tipo [na verdade, um personagem questiona se o outro vai “levantar o traseiro daí e fazer alguma coisa”, expressão para alguém agir logo]. Se está escrito[a mesma coisa], deve ser colocado em embalagem lacrada, opaca e com advertência.
Ver pessoas do mesmo sexo se beijando é algo que o incomoda?
Minha opinião pessoal pouco importa. A entrevista é com o prefeito. E um prefeito que não zela pelas crianças talvez esteja cometendo o pior dos seus equívocos.
Atribuiu-se a ações suas na Bienal e do governador João Doria em escolas paulistas, ao recolher livros com questões de gênero, um afago no segmento conservador, por já estarem de olho na eleição.
Acho essa pergunta extremamente preconceituosa. Nós cumprimos a lei. Sou pai de três filhos. Quero que as crianças não tenham um choque.
O sr. cortou verbas para o Carnaval, decisão associada a sua fé. O sr. nunca fez questão de ir à festa, uma tradição de prefeitos.
Fui o primeiro cantor evangélico a gravar um samba. “Gente Fina”. Me lembro de uma vez, num culto da catedral, com o bispo Macedo balançando o pezinho. Ele pode até negar, mas eu lembro disso. Aliás, o Bezerra da Silva gravou o meu samba! (Folha)