Bilheteria não banca parcelas do Itaquerão, e conta não fecha
Valor da parcela do financiamento da arena é maior do que a receita com venda de ingressos
As rendas de bilheteria da Arena Corinthians não geram dinheiro suficiente para pagar o empréstimo com a Caixa Econômica Federal.
Em reunião realizada pelo conselho deliberativo do clube, em 12 de agosto, integrantes da comissão do estádio que analisaram documentos e balanços do estádio afirmaram que “a conta não fecha”. A expressão está registrada na ata.
Levantamento dos boletins financeiros dos jogos da equipe no local em 2018 registram R$ 43,2 milhões de renda. Os valores são líquidos, descontadas as taxas de administração e impostos. Menos as quatro partidas válidas pela Libertadores, em que apenas a arrecadação bruta foi divulgada.
Em nota, o Corinthians diz ter obtido R$ 60,5 milhões em receitas “geradas exclusivamente de bilheteria”. O montante divulgado é o valor bruto, sem os descontos de taxas de administração, operação e tributos.
“A reportagem não leva em conta outras fontes de receita que não os ingressos. Muitas delas noticiadas pela própria Folha ao longo do biênio 2018-2019, tais como: Camarote Fiel Zone, Camarote Arena Pop, Camarote Kids, uma nova loja Poderoso Timão no setor Oeste do Estádio, Jantar do Dia dos Namorados, Aniversário de 109 anos do Timão, Monster Jam, Low Park, Samba Arena e Arraiá da Arena”, completa a nota.
O clube diz que esses eventos geraram R$ 28 milhões de receita. Desde que foi inaugurado, o estádio é preterido pelo Allianz Parque na realização de shows internacionais na cidade.
A comissão do estádio apresentou ao conselho, baseado em números disponibilizados pela Arena Itaquera S.A, empresa que administra o local e que tem o Corinthians como um dos sócios, R$ 88 milhões de movimentação em 2018. Porém, R$ 48 milhões foram retidos em taxas, administração e pagamentos de funcionários. Sobraram R$ 40 milhões.
O clube diz que esteve em dia com os pagamentos com a Caixa em 2018.
O banco entrou com pedido de execução do empréstimo de R$ 400 milhões feito à Arena Itaquera S.A por atraso na quitação das parcelas de 2019. No ano, apenas duas foram pagas. No processo, ao qual a reportagem teve acesso, a instituição se queixa também que em anos anteriores houve meses em que o estádio pagou apenas juros.
Cada parcela do empréstimo custa R$ 5,7 milhões. Apenas em março e maio do ano passado as bilheterias em jogos no Itaquerão geraram mais dinheiro que isso.
As rendas das partidas vão para a Arena Fundo de Investimento, que tem o Corinthians como um dos cotistas, e é responsável por pagar a conta à Caixa.
Em março de 2018, por exemplo, o estádio arrecadou com as partidas R$ 7,8 milhões. Em maio, R$ 9,8 milhões. Em dezembro, não houve arrecadação com bilheteria, já que nenhum jogo foi disputado no local.
O Corinthians tentava encaminhar um acordo para mudar o valor das prestações e considerava já ter um entendimento com o banco para que isso acontecesse. Mas a nova diretoria da Caixa, nomeada pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) neste ano, não viu o assunto da mesma forma e entrou com pedido de execução.
Incluída multa de R$ 48 milhões prevista no contrato para o caso de uma ação judicial de cobrança, o banco pede a execução de R$ 536 milhões da Arena Itaquera S.A.
Na decisão em que concorda com a execução, o juiz federal Victorio Giuzio Neto determinou que a Arena Itaquera S.A fosse incluída no Serasa. O Corinthians deseja reabrir renegociação com a Caixa para frear a execução. Pedro Guimarães disse estar aberto a conversar com o clube. A princípio, uma reunião foi marcada para a próxima semana. A data ainda será definida, a depender da agenda do executivo da estatal e de Sanchez. (Folha)