A odisseia do Fefecê

Da iminente desistência às quartas de final. A saga do Fernandópolis na “Bezinha” do Paulista, o equivalente à quarta divisão, é digna de filme, com drama, ação, trama policial, suspense –e nada de ficção.

Após a melancólica queda na A-3 em 2016 e a exclusão da última divisão em 2017, o Fefecê tenta se reerguer.

O início neste ano parecia promissor. A única derrota nos 12 jogos da primeira fase veio em um WO, após o ônibus quebrar a caminho de Tupã. Só cinco atletas chegaram ao estádio.

Um deles era o atacante Murilo. Campeão de tudo na base do São Paulo, aos 21 anos, ele dá uma lição de superação após quase desistir do futebol. O jovem teve o joelho direito operado aos 18, conviveu com dores e só agora, em sua cidade, recuperou a alegria: é o artilheiro da Segundona, com 15 gols, e atravessa a melhor fase de uma promissora carreira.

Apesar da liderança da chave assegurada, a crise financeira que tanto assombra os clubes do interior ameaçou o futuro da equipe na Segunda Divisão. Com salários atrasados, falta de apoio, renda bloqueada e até greve de treino —a polícia foi chamada para conter os atritos com o então presidente—, o Fernandópolis ameaçou abandonar o campeonato. Mas desistiu.

Na segunda fase, foram mais seis jogos sem derrotas. E mais um mês sem receber. E mais uma paralisação nos treinamentos, o que levou os dirigentes a rifarem uma moto, na última rodada, para arrecadar grana. Diferentemente do que acontece em 99% dos clubes, a crise não atrapalhou o rendimento em campo e a Águia seguiu em frente.

A bagunça chegou ao ápice na terceira fase. A luz do estádio Cláudio Rodante foi cortada. O presidente e o vice foram presos pela Polícia Federal de Jales por suposto envolvimento em esquema de fraudes. O caminho mais provável era a desistência.

A primeira derrota em campo, porém, veio apenas na 21ª partida, mas a vaga ao mata-mata está garantida.

Só falta o acesso para que os heróis do Fernandópolis encerrem essa épica jornada com um final feliz.