Agora

Aloysio Nunes coordenava as propinas no PSDB, diz delação

Léo Pinheiro afirma que tucano cobrava percentuai­s em contratos do governo de SP; defesa nega

- JOSÉ MARQUES E FELIPE BÄCHTOLD, DA FOLHA PAULA BIANCHI, DE THE INTERCEPT BRASIL

Ao negociar acordo de delação com a Lava Jato, a cúpula da empreiteir­a OAS descreveu o ex-senador e ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira em papel central na coordenaçã­o de pagamentos de propinas para campanhas do PSDB, entre elas a do senador José Serra à Presidênci­a da República, em 2010.

Aloysio é citado em quatro capítulos como solicitant­e de repasses em troca de liberação de dinheiro de obras da prefeitura paulistana e do Governo de São Paulo para a empreiteir­a.

Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, menciona Aloysio sempre como a pessoa que solicita propina, seja para ele ou para Serra, nas campanhas de 2006 e 2010. Em 2006, Serra venceu a disputa ao Governo de São Paulo. Em 2010, disputou e perdeu a Presidênci­a, e Aloysio se elegeu ao Senado.

O empreiteir­o da OAS saiu da cadeia na última terçafeira (17), após ter seu acordo de colaboraçã­o homologado no Supremo Tribunal Federal. Ele estava preso em regime fechado desde 2016.

Entre as obras ligadas ao PSDB de São Paulo que o empresário cita como alvo de suposto desvio estão a ponte estaiada Octavio Frias de Oliveira, o túnel da Radial Leste, a rodovia Carvalho Pinto e a linha 4-amarela do Metrô.

A delação aponta que parte do dinheiro era entregue em espécie a indicados pelo ex-senador, que chefiou pastas das gestões Serra tanto na prefeitura (Secretaria de Governo) quanto na administra­ção estadual (Casa Civil).

Os relatos da OAS que implicam Aloysio começam em 2005, logo após Serra ser empossado prefeito de São Paulo.

Léo Pinheiro diz ter se reunido com Serra e Aloysio para discutir as obras que a empresa havia iniciado na gestão Marta Suplicy (na época no PT), como a construção da ponte estaiada e o túnel da Radial Leste.

Após a decisão de continuar a obra, conta o empresário, Aloysio o chamou em uma sala reservada para conversare­m na varanda.

“[Na ocasião] solicitoum­e uma adequação do programa da obra para que as alças da ponte estaiada e do túnel da Radial Leste fossem inaugurada­s quando José Serra renunciari­a à prefeitura. Solicitou-me ainda o pagamento de vantagens indevidas no valor de 5%”, afirmou.

Ele diz que, em 2006, quando Serra deixou a prefeitura e o vice Gilberto Kassab (hoje PSD) assumiu, representa­ntes da OAS foram procurados pelo novo prefeito para informar que seriam mantidos os compromiss­os de vantagens indevidas acertados por Aloysio —que continuou na Secretaria Municipal de Governo.

Ao longo da gestão Kassab, disse o empresário, houve pagamentos de propina combinados com a OAS nas obras da avenida Jornalista Roberto Marinho e em contratos da Secretaria Municipal da Habitação.

O ex-senador Aloysio Nunes negou à Folha ter cometido crimes e disse que pediu doações oficiais para a OAS em várias campanhas, que eram legais à época, “sem jamais exigir qualquer tipo de contrapart­ida”.

“Tudo o mais só posso atribuir à pressão psicológic­a exercida pelos procurador­es para obter delações mentirosas de alguém há tanto tempo encarcerad­o”, disse, em nota, Aloysio.

O ex-prefeito Gilberto Kassab disse que nunca teve relação próxima com Léo

Uma proposta de delação com depoimento­s de Léo Pinheiro foi compartilh­ada por procurador­es da Lava Jato no aplicativo Telegram e está no material que foi enviado por fonte anônima para o The Intercept Brasil. Os arquivos foram analisados pela Folha de S.paulo e pelo site.

A proposta de Léo Pinheiro enviada pelos procurador­es é de junho de 2017, mas a Folha apurou que os relatos Pinheiro e que jamais fez reunião com a finalidade de manter pagamentos ilegais.

Kassab afirmou ainda confiar no Judiciário e que está absolutame­nte tranquilo diante da lisura e correção com que atuou em cargos públicos.

Márcio Fortes afirmou que nunca esteve na presença de Léo Pinheiro, “muito menos em qualquer reunião com o Aloysio”. “Não sei quem é [Léo Pinheiro], se eu o visse na rua não saberia quem era. Isso tudo [o que ele relatou] é um mundo inexistent­e.” continuam na versão final, homologada agora pelo ministro Edson Fachin (STF).

Em um trecho desses relatos, Léo Pinheiro diz que, em 2007, já na gestão Serra no Governo de São Paulo, Aloysio se reuniu com representa­ntes de cinco grandes empreiteir­as na casa de um suspeito de operar para o PSDB e solicitou propina de R$ 5 milhões.

Em troca, as empresas esperavam a liberação de

Luis Sobral disse, em nota, que não conhece nem participou das supostas reuniões apontadas pelos delatores. “Nunca sugeri, orientei, nem me reuni com ninguém para receber valores em espécie de nenhuma natureza. Não conheço pessoalmen­te os citados, inclusive”, afirmou.

Ele disse que exerceu um cargo técnico de contabilid­ade das contas da campanha e que, segundo ele, tudo foi devidament­e registrado na Justiça Eleitoral.

“Repudio essa tática sórdida R$ 180 milhões relativos à construção da linha 4-amarela do Metrô. O episódio já foi relatado pela Folha. Nele, Léo Pinheiro diz que autorizou o pagamento da parte da OAS, R$ 1 milhão, em espécie, para o então deputado Rodrigo Garcia (DEM), hoje vice de João Doria (PSDB) no governo.

As outras duas menções a Aloysio são a respeito das eleições de 2010, quando Serra concorreu ao Planalto e ele, ao Senado por São Paulo. Ambas fazem referência às obras da rodovia Carvalho Pinto.

Na proposta apresentad­a aos procurador­es, outros dois ex-funcionári­os da OAS, além de Léo Pinheiro, delatam suposto pagamento de propina relativo à obra viária.

O empresário afirma que, em reunião com Aloysio e Márcio Fortes (então presidente da estatal Emplasa), o futuro senador solicitou 10% em troca de créditos pendentes da empreiteir­a na Carvalho Pinto.

“Aloysio ainda deixou claro, durante a reunião, que para que houvesse recebiment­o dos créditos pendentes seria necessária uma audiência com o governador José Serra para informar que a OAS iria dar continuida­de pela qual um criminoso confesso usa o nome de uma pessoa inocente --que foi contratado oficialmen­te pela campanha e exerceu uma função pública-com o objetivo de dar veracidade ao seu depoimento e obter benefícios judiciais”, acrescento­u.

Procurado, o senador José Serra não se manifestou sobre as declaraçõe­s de Léo Pinheiro. A reportagem não conseguiu localizar Sérgio Freitas.

A defesa de Léo Pinheiro não se manifestou. (Folha) às obras da linha 4 do Metrô”, diz Léo Pinheiro no documento.

“Essa foi a ‘senha’ que combinei com Aloysio Nunes para que o governador Serra tivesse ciência do ajuste”, afirma.

Depois da reunião, diz ele, foi celebrado um acordo judicial com a Dersa (estatal rodoviária) para o pagamento pendente, no valor de R$ 54 milhões.

Ele diz que, então, fez uma doação oficial à campanha de Serra no valor de R$ 2,8 milhões e que outros R$ 2,5 milhões foram pagos em espécie a três emissários do governador: a Fortes, a Sérgio Freitas, tesoureiro da campanha, e a Luis Sobral, que trabalhava para o partido.

Segundo José Ricardo Breghiroll­i, ex-funcionári­o da OAS que afirma ter feito entregas a Sobral, os valores eram levados em envelopes pardos no comitê de campanha, no centro de São Paulo, em blocos de R$ 5.000 com até R$ 50 mil por envelope. As notas iam dentro de uma pasta de notebook. Esse relato também foi homologado pelo Supremo.

Após a entrega, disse Breghiroll­i, jornais amassados eram colocados dentro da pasta para que ela voltasse com o mesmo volume que entrou no prédio. Para a campanha de Aloysio ao Senado, Léo Pinheiro disse ter dado R$ 1 milhão em espécie, em cinco parcelas de R$ 200 mil.

Nos últimos anos, Aloysio se tornou ministro das Relações Exteriores do governo Michel Temer (MDB) e, neste ano, virou presidente da Investe SP, agência de estímulo a investimen­tos no estado, do governo João Doria.

No entanto, afastou-se em fevereiro, após virar alvo de uma fase da Operação Lava Jato que prendeu o exdiretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, apontado como operador de propina de tucanos. (Folha)

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Luiz Carlos Murauskas - 27.ago.14/folhapress O ex-ministro e ex-senador Aloysio Nunes, do PSDB, em campanha

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