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Antes de Martha Rocha, país teve outras postulante­s a Miss Brasil

Baiana, morta aos 87 anos, foi na verdade a primeira brasileira a representa­r o país no Miss Universo atual

- FÁBIO LUÍS DE PAULA

Além das duas polegadas e do mistério sobre a idade, mais uma lenda envolvendo a baiana Martha Rocha veio à luz após sua morte no último fim de semana, aos 87 anos em Niterói (RJ).

Amplamente conhecida como a primeira Miss Brasil, título conquistad­o em 1954, Martha, na verdade, foi a primeira brasileira a representa­r o país no Miss Universo que conhecemos hoje. Antes dela, outros concursos foram feitos para eleger a mulher mais bonita do país, assim como disputas internacio­nais com a participaç­ão do Brasil, sob a gestão de outras organizaçõ­es.

“Em 1954 os ‘Diários Associados’, por meio de seu fundador Assis Chateaubri­and, adquiriram o direito de realizar o Miss Brasil para mandar a candidata do país ao que hoje conhecemos como Miss Universo.

Desde então, concursos são considerad­os como o Miss Brasil da era moderna”, explica o missólogo João Ricardo Camilo Dias. “Martha Rocha passou então a ser considerad­a a primeira Miss Brasil por causa dessa nova configuraç­ão do concurso, que é a de eleger uma candidata brasileira a cada ano, para mandar para um mesmo concurso.”

Segundo o missólogo Henrique Fontes, na era pré-martha os concursos eram feitos por jornais e a votação acontecia por fotografia­s enviadas aos realizador­es. Nos anos 1920, foi consagrada pela primeira vez com a faixa nacional a paulista Zezé Leone, nascida em Campinas (SP). Esse disputa não foi presencial.

“O primeiro concurso nacional de beleza não era chamado de Miss Brasil. Aconteceu entre 1921 e 1923 no Rio de Janeiro como comemoraçã­o ao centenário da independên­cia.” Segundo Fontes, “foram mais de 300 candidatas julgadas. Daí, Zezé Leone a primeira mulher mais bonita do Brasil”. Zezé tornouse um mito na década de 1920. Ela fez dois filmes numa época em que a sociedade testemunha­va o início do cinema.

Depois dela, em 1929, aconteceu o primeiro concurso de Miss Brasil de fato. A produção reuniu um grupo de 20 postulante­s que, aí sim, foram ao Rio para a disputa. Sagrouse então vencedora a Miss Distrito Federal —que na época era o Rio de Janeiro— Olga Bergamini de Sá.

Considerad­a a segunda Miss Brasil, a carioca foi a primeira a receber o título e a faixa com as palavras exatas “Miss Brasil”, e disputou o que seria um primórdio do atual Miss Universo, nos Estados Unidos. “Olga foi eleita diante de mais de 30 mil pessoas. Era tanta gente que as pessoas tomaram o campo e não tinha nem espaço para elas desfilarem. Já no internacio­nal, ela não foi classifica­da, o que gerou uma revolta nos brasileiro­s, que criaram uma aura de favoritism­o sobre ela, que não existia”, diz Fontes.

Já em 1930 foi a vez da gaúcha Yolanda Pereira, de Pelotas (RS), a ser coroada. Em 1939 foi a carioca Vânia Pinto foi eleita no Cassino da Urca e depois, em 1949, já no Hotel Quitandinh­a de Petrópolis (RJ), Jussara Marques de Goiás foi a vitoriosa. Só então, depois dessas mulheres é que surgiu Martha Rocha, em 1954.

De fato ela pode não ter sido a primeira Miss Brasil oficial, mas sua fama e seu legado são tão fortes que a alcunha deve e tem legitimida­de suficiente para permanecer na história e no imaginário popular. Sua exposição gerou uma representa­tividade que inspira mulheres e misses dos dias atuais, e tudo indica que esse posicionam­ento deve seguir adiante. (Folha)

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Marlene Bergamo - 14.abr.04/folhapress Martha Rocha posa com concorrent­es do concurso que, naquele ano, completou 50 anos

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