Astrólogo do povo
Walter Mercado ganha documentário na Netflix hoje; no auge da fama, atingia diariamente 120 milhões de televisores e surgia como mensageiro andrógino
Ele era uma fonte de inspiração para muitos de nossos avôs. Todo dia ele repetia ‘amanhã será um dia melhor do que ontem’
Cristina Costantini, diretora
Muito antes da febre dos superheróis, um outro personagem de capas fantasiosas e superpoderes de vidente fazia a cabeça de nossos vizinhos hermanos pela América Latina.
Walter Mercado, mais conhecido no Brasil pelo bordão “ligue djá” e por práticas duvidosas de telemarketing, é uma lenda da televisão latina e, mais recentemente, foi alçado à cultura digital dos memes.
Antes de morrer no final do ano passado, aos 87 anos, o astrólogo andava sumido do mapa por quase uma década. Vivia recluso em San
Juan, em Porto Rico, longe do glamour e das roupas extravagantes que marcaram sua carreira, até ser encontrado por dupla de diretores americanos de ascendência latina.
Ao receber os cineastas em casa, Mercado caprichou no spray de cabelo, vestiu suas roupas mais brancas e tirou a poeira de seus óculos dourados.
“Para nós, ele era uma mistura de Oprah Winfrey e Mister Rogers, com o look do Liberace”, disse a diretora Cristina Costantini, de “Science Fair”, que codirigiu o documentário “Ligue Djá: O Lendário Walter Mercado”, ou “Mucho Mucho Amor”, no original, que estreia hoje na Netflix, após passagem pelo Festival Sundance.
O nome original do filme pega emprestado o bordão que Mercado usava para se despedir em seus programas de astrologia, aos quais a diretora assistia religiosamente todos os dias quando criança, ao lado de sua avó imigrante. “Temos esse amor profundo por ele porque crescemos ao seu lado. Ele representa uma nostalgia da nossa infância”, explica.
Para quem conhece só seus comerciais bizarros na TV brasileira, marcados pelo inesquecível “ligue djá”, é curioso embarcar em sua jornada mística. Somos apresentados à sua personalidade delicada e um tanto ingênua, embora ele fosse também ambicioso.
No auge da fama, atingia diariamente 120 milhões de televisores por diversos países —ele surgia como um mensageiro sideral andrógino, versado em misticismos, astrologia e muita autoajuda.
“Ele pregava o amor, a esperança e a paz. É uma mensagem muito relevante para os dias de hoje. Ele era uma fonte de inspiração para muitos de nossos avôs. Todo dia ele repetia ‘você pode, sim, amanhã será um dia melhor do que ontem’”, lembra Cristina Costantini.
A diretora filmou Mercado por