Núcleos afros se unem contra fraudes em cotas ‘Ninguém quer tomar espaço só porque é negro’
Líderes querem travas a desvios na distribuição igual de recursos
BRASÍLIA A possibilidade de a Justiça confirmar a determinação de distribuição igualitária imediata de verba e espaço na propaganda eleitoral a candidatos negros e brancos levou núcleos afros dos partidos políticos a se organizar entre si para tentar barrar as já esperadas tentativas de burla à nova regra.
Líderes de movimentos negros de várias siglas estudam ingressar com medida no STF (Supremo Tribunal Federal) ou no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para que as cortes superiores estabeleçam desde já travas às possíveis fraudes nas eleições municipais.
Integrantes da corte eleitoral, no entanto, alertam que o calendário está apertado e que o risco de a regra valer para este ano sem uma regulamentação específica é grande, o que amplia a chance de haver fraudes.
Não há uma definição, por exemplo, para os casos em que o candidato a prefeito é branco, mas o vice é negro, entre outras situações que podem dar margem para que as medidas sejam dribladas.
Os defensores da distribuição igualitária das verbas prometem acompanhar de perto as candidaturas de negros e denunciar internamente e ao Ministério Público casos suspeitos de desvio. (Folha)
Responsável pela consulta ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que resultou na decisão sobre cota financeira e de propaganda para negros nas eleições, a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) afirma que, agora, caberá à comunidade negra não aceitar acordos ilegais que resultem em candidaturas laranjas.
“Não podemos aceitar sermos laranjas”, diz Benedita, 57 anos. Ela foi a primeira mulher negra a ocupar os cargos de vereadora do município do Rio de Janeiro, deputada federal na Assembleia Constituinte de 1988, senadora e governadora do Estado do Rio de Janeiro. Benedita afirma que o atual governo não conhece a pobreza do Brasil, nem o movimento negro. (Folha)