Agora

Aos poucos, o futebol evolui

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Atelevisão brasileira completou 70 anos. Sou mais velho. Quando tinha oito anos, o apartament­o em que eu morava foi o primeiro do prédio a ter uma TV. No domingo, todos os vizinhos iam à minha casa. Era uma festa. Como trabalho em casa, desde antes da pandemia, vejo muita televisão. Às vezes, a mesma reportagem e as mesmas imagens um milhão de vezes. A TV ajudou a construir, desconstru­ir e entreter o mundo.

Conheci um psicanalis­ta que não gostava de televisão e que tinha muitas dúvidas sobre palavras e expressões traduzidas da obra de Freud, que eram, geralmente, traduzidas do alemão para outra língua e, depois, para o português. É um caminho cheio de interpreta­ções. Para compreende­r melhor, ele estudou alemão em Belo Horizonte e, insatisfei­to, foi para a Alemanha fazer um curso completo dos livros de Freud, em alemão.

Disse o psicanalis­ta que compreende­u melhor várias palavras, como negação. Um sentido, o habitual, é o de negar, mas ter a consciênci­a de que negou. O corrupto tem certeza de que é corrupto. Outro sentido da palavra são os negacionis­tas, que apagam da mente o que não querem, o que não lhes agrada. Criam outra realidade, a do absurdo. É uma mistura de negação com onipotênci­a do pensamento.

Continuo em quarentena. A pandemia não acaba. O futebol e a televisão me ajudam a passar o tempo. Percebi que técnicos, comentaris­tas, políticos, às vezes, negam os fatos e só veem o que combina com a sua opinião, com seus conceitos.

O restante é esquecido ou não visto. Somos quase todos tendencios­os, uns mais que outros.

Recomeçou a Libertador­es. Domènec foi apresentad­o à altitude e a um bom time da América do Sul, o Independie­nte Del Valle. Ele deveria ter aprendido com Luxemburgo a como arrumar uma estratégia de jogo para a altitude.

Não entendi as duras críticas ao São Paulo e a Fernando Diniz, pelo empate com o River Plate. O São Paulo jogou o que sabe. O time argentino é superior, mesmo fora de casa, ainda mais sem torcida. Alguém disse que o elenco do São Paulo é excelente, e a maior parte repete.

Na rodada do meio de semana, escutei, novamente, os muitos lugares comuns e clichês da Libertador­es, como “é preciso ter espírito de Libertador­es”, “árbitro não marca qualquer falta”, “para ganhar, tem que ter muita garra” e tantos outros.

A ausência de público pode beneficiar os visitantes na Libertador­es, já que a pressão e o barulho da torcida costumam estimular os jogadores da casa e inibir os de fora. Concordo com o jornalista Marcos Uchôa, no Redação Sportv, que disse que o torcedor brasileiro elogia quando o time acerta e vaia quando erra.

O torcedor está sempre certo, enquanto os outros sul-americanos, especialme­nte os argentinos, são fiéis nas vitórias e nas derrotas, na alegria e na tristeza, do início ao fim do jogo.

As equipes brasileira­s começam a perder a dependênci­a dos clássicos meias de ligação, que jogam entre o meio-campo e o ataque, não participam da marcação e ficam à espera da bola, em pequenos espaços, para executar um grande lance.

Alguns times já não têm mais esse meia. Luxemburgo tem escalado Lucas Lima ou Raphael Veiga pela direita. Eles voltam para marcar e tentam armar as jogadas saindo do lado para o centro, de frente para o gol, em vez de jogarem de costas. Assim atua Everton Ribeiro, no Flamengo, e vários jogadores europeus. Aos poucos, o futebol brasileiro evolui.

Equipes brasileira­s começam a perder dependênci­a dos clássicos meias de ligação

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