Bolsonaro abandona aliados para ter estabilidade política
BRASÍLIA Diante de um Orçamento apertado, do medo de sofrer impeachment e de um perfil populista evidenciado com a proximidade da eleição de 2022, o presidente Jair Bolsonaro abandonou aliados que o ajudaram em 2018 a chegar ao Palácio do Planalto.
Na semana passada, sob a justificativa não incorrer em crime de responsabilidade fiscal e acabar embasando um processo de impedimento, Bolsonaro vetou o perdão de dívidas de igrejas, contrariando a bancada evangélica, uma das mais fiéis a seu governo.
Para tentar minimizar o mal estar e não implodir a ponte com a frente parlamentar, que reúne 195 dos 513 deputados e 8 dos 81 senadores, ele mesmo sugeriu que os congressistas derrubem o veto. Na quarta (16), reuniu alguns em um almoço no Planalto e, no sábado (19), participou de evento da Assembleia de Deus Ministério de Madureira.
“A gente preferia que o cenário fosse outro. Mas, do mesmo jeito que foi um dia muito ruim [o do veto], amanhã pode ser um dia maravilhoso. Nossa relação é muito ideológica”, minimiza o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ).
A bancada da Bíblia, como também é chamada, vai monitorar o comportamento dos líderes do governo no Legislativo para analisar se o Palácio do Planalto quer mesmo derrubada do veto.
A frente parlamentar da segurança pública, mais conhecida como bancada da bala, diz que a maior parte de sua agenda está represada pelo Congresso, não pelo Executivo, e que o apoio ao presidente também se dá por ideologia. O grupo aponta que Bolsonaro tem conversas apenas individuais com seus integrantes.
A bancada, com 306 deputados, apoia o presidente sem nenhum tipo de condição, diz o líder Capitão Augusto (PL-SP). “O pessoal ficou um pouco frustrado por não ter tido nenhum encontro com a bancada. Não teve nenhum evento em que a bancada foi chamada.”
Outra queixa apresentada é em relação à recriação do Ministério da Segurança Pública, desmembrando-o do Ministério da Justiça. Esta pendência, porém, não será resolvida em 2020. Como a reportagem mostrou no início do mês, Bolsonaro desistiu de recriar a pasta, segundo três aliados dele em condição de anonimato.
Sob alegação de questões orçamentárias e indisponibilidade de cargos, o presidente deixou mais um aliado para trás. Amigo pessoal dele desde 1982, o ex-deputado Alberto Fraga (DEMDF) era cotado para o governo. Agora, junta-se a nomes como o do ex-senador Magno Malta, que saiu da derrota nas urnas confiante de que ganharia um ministério, o que não ocorreu. (Folha)
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