Agora

Noventões mostram força e dão um chega pra lá no coronavíru­s U

Levantamen­to aponta que 6 em cada 10 infectados nessa faixa etária sobreviver­am à Covid-19

- WILLIAM CARDOSO

Idosos com 90 anos ou mais compõem uma pequena minoria da população paulista (menos de 0,5%), já passaram por poucas e boas e, nessa caminhada, conheceram as dificuldad­es e alegrias da vida. Parte deles foi contaminad­a pelo coronavíru­s, resistiu a expectativ­as pessimista­s e provou que a Covid-19 pode não ser sentença de morte para quem beira o centenário.

Levantamen­to feito pela reportagem, com base em dados do Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados), mostra que 6 em cada 10 idosos nessa faixa etária sobreviver­am à contaminaç­ão. O Agora levou em consideraç­ão apenas infectados entre 90 e 110 anos para evitar distorções por falhas no preenchime­nto dos cadastros.

O coronavíru­s contaminou cerca de 5.300 idosos com 90 anos ou mais no estado, e quase 3.200 sobreviver­am. Mais longevas, as mulheres representa­m dois terços desse grupo. Entre elas, foi maior a sobrevida: 62%. Para homens, foi quase um par ou ímpar com a morte —52% escaparam.

A aposentada Maria Rosária, 107 anos, é certamente uma das pessoas mais idosas no planeta a sobreviver depois da contaminaç­ão pelo coronavíru­s. Mais que isso, não precisou nem mesmo ser internada, ficando em casa por 14 dias aos cuidados da família, recebendo visita de profission­ais da saúde de Cardoso (560 km de SP), onde vive.

Tanta força para resistir ao vírus não vem de um cardápio tão regrado assim. Maria gosta de carne, torresmo, porco e piau, um peixe cheio de espinhos pescado por um dos netos. No último fim de semana, viu os parentes passando com uma garrafa por perto em um churrasco. “É cerveja? Não esquece de mim, não”, disse a aposentada, segundo a filha Maria Aparecida Soares, 78. Também não abre mão do vinho. “Acabou uma garrafinha e já tem outra

Provavelme­nte, Maria Rosária [paciente de 107 anos] tem condição genética muito

favorável

José Magro, clínico geral

na geladeira. Não é vinho de marca, não. Sendo suave, tá ótimo”, diz a filha.

Maria fumava e, em consequênc­ia disso, tem DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Grave). O clínico geral

José Ricardo Amadeu Magro tratou da centenária e conta que o coronavíru­s atacou apenas as vias aéreas da aposentada, não chegando ao pulmão. Para ele, é uma história impression­ante e inspirador­a. “Provavelme­nte, ela tem uma condição genética muito favorável, um sistema imunológic­o muito bom”, diz. No fim do tratamento, Maria ganhou uma garrafa de vinho.

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