Parada obrigatória
Asfalto. Velocidade. Perigo. São os rachas em Guarulhos.
Em tempos de Covid, alguns jovens têm pressa para encontrar a morte.
Neko teve azar.
A blitz policial obrigou-o a puxar o breque do carrão.
—Haha. Eles não sabem com quem estão falando.
O tio dele era um poderoso deputado em Brasília.
Na delegacia, ele chegou falando alto.
—Exijo os meus direitos humanos.
A delegada Mindiane não se abalou.
—O procedimento aqui é rigorosamente legal.
Ele levantou o queixo. —Quero a minha liberdade de ir e vir.
—Daqui o senhor não sai nem de patinete.
As lágrimas começaram a nascer nos olhos do jovem motorista.
—Posso usar meu celular?
O deputado Carlos Licídio atendeu na hora.
—Neko… essa delegada só pode ser comunista. O conselho foi preciso. —Diz que não era racha. Era carreata contra o presidente.
—Isso. Quero a minha liberdade de expressão.
Não deu certo. Neko continua preso.
—Tio, você não consegue falar com o Gilmar?
—Xi… aí é que te ferram mesmo…
Sempre há saídas para quem desfruta do poder.
Mas, por vezes, entra muita sujeira no motor.