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Famílias têm enfrentado dificuldad­es com o luto

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Elaborar o luto tem sido a tarefa penosa para as famílias de vítimas da Covid-19.

A pedagoga Adrianne Medeiros, 35, diz que após dez meses da morte de seu marido, o supervisor de vendas Diogo Guimarães, 38, completado­s nesta terça-feira (23), é hora de se autopreser­var.

Adrianne diz não saber quando terá sua vida de volta nos trilhos. Afirma ainda dormir ao lado das roupas do marido e, ao sair de casa, borrifa o perfume que ele mais gostava sobre ela mesma “para continuar sentindo ele perto”.

Os porta-retratos de Diogo continuam no mesmo lugar. “E sou criticada por isso. Há uma pressão das pessoas que estão me vendo de fora para eu voltar a namorar, a trabalhar, a viver. Mas gente: eu estou vivendo. Me deixem”, diz.

Da periferia de São Paulo, a família de George Francisco

Gomes, 50, busca se reerguer da perda do motorista.

Sem George, a família teve dificuldad­es financeira­s e precisou de auxílio de amigos do motorista para conseguir manter a alimentaçã­o em casa. “Vimos que quem mais tem sofrido com essa pandemia é a população pobre, preta e periférica”, diz Natália Gomes, uma das filhas do motorista.

A historiado­ra Elisana Trilha Castro, atual presidente da Associação Brasileira de Estudos Cemiteriai­s, olha os 250 mil mortos por Covid para além do número em si. “O número traz demandas, e essas pessoas que passaram por tantas situações difíceis precisam ser olhadas nas políticas públicas de reparação do luto.”

São pessoas, diz Castro, que perderam seus arrimos de família; crianças ficaram órfãs na pandemia. “Não sei o que será delas sem uma política social forte”. (Folha)

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