Boiada à vista
Oevidente despreparo de Jair Bolsonaro para enfrentar o agravamento da pandemia transformou seu governo em alvo fácil para pressões de todo tipo.
É o que explica as concessões feitas para solucionar a disputa entre Executivo e Congresso pelo controle do Orçamento, na qual muita gambiarra foi feita para ampliar o volume de grana para os redutos eleitorais de parlamentares.
Nesta segunda (19), anunciou-se um acordo para afrouxar os limites para os gastos do governo, cortando parte das emendas de deputados e senadores e abrindo espaço para socorrer empresas e trabalhadores afetados pela crise.
Se prevalecer, o arranjo permitirá que Bolsonaro enfim sancione o Orçamento, chancelando, ao menos no papel, verbas destinadas a contemplar interesses dos parlamentares e gastos emergenciais.
Alguns dos setores mais afetados já garantiram o seu no Congresso —a exemplo dos promotores de eventos e da indústria do turismo, beneficiados por um pacote de isenções fiscais e de renegociações de dívidas que poderá custar R$ 243,5 bilhões em cinco anos. Ele ainda depende da sanção presidencial.
Outros segmentos, como donos de bares e restaurantes, também têm buscado o seu quinhão. A equipe econômica tem combatido essas propostas, preocupado com o risco de um estouro da boiada.
Parece reduzida, porém, a capacidade de resistência do Planalto, acuado diante da CPI da Covid e das pressões do centrão por cargos e verbas públicas.
Se por um lado não há dúvida de que a calamidade aumentou a insegurança de trabalhadores e empresas, por outro é dever do governo evitar o desperdício dos poucos recursos disponíveis e sua apropriação por grupos de interesse.