Agora

Torneio é ápice da revolução dos bilionário­s estrangeir­os

- ALEX SABINO

Em entrevista ao site The Athletic publicada no final de março, o agente italiano Mino Raiola defendeu a ideia de que a Fifa deveria ser “desmantela­da” e substituíd­a por uma “plataforma”. “Eu acho que a Fifa não deveria existir”, afirmou o empresário de Erling Haaland, Paul Pogba, Zlatan Ibrahimovi­c e outros dos mais badalados nomes do futebol mundial.

Dezenove dias depois da veiculação de suas declaraçõe­s, 12 dos clubes mais ricos do planeta dispararam contra a Uefa e anunciaram a criação de uma Superliga.

“É um assunto muito complexo. Não vejo outra solução que não seja um alinhament­o [entre os times rebeldes e a Uefa]. Fala-se em sanções, como expulsão dos clubes da Superliga e de jogadores, mas são punições muito difíceis de serem implementa­das. Muita coisa vai acontecer ainda. Há muitas variáveis em jogo”, afirma o advogado Marcos Motta, especialis­ta em direito esportivo internacio­nal e que tem Neymar entre seus clientes.

“É inviável justificar a expulsão dos clubes da Liga dos Campeões por um motivo muito concreto. A Superliga não existe. Ela existe como ideia que eles querem colocar em prática. Existe um projeto. Seria uma medida altamente ilegal”, afirma Eduardo Carlezzo, advogado especializ­ado em direito desportivo.

Ele e Motta lembram que a ideia da Superliga existe há mais de dez anos, mas os clubes sempre tiveram medo de punições. Desta vez há uma diferença: os donos. À exceção de veteranos como Joan Laporta (novo presidente do Barcelona), Florentino Pérez (presidente do Real Madrid e da Superliga) e da família Agnelli na Juventus, a cartolagem da Superliga é composta por pessoas sem ligação antiga com o futebol.

Dos 12 participan­tes, apenas Barcelona e Real Madrid não são uma propriedad­e privada. Além deles, Juventus e Tottenham (controlado por ingleses) não têm participaç­ão estrangeir­a.

Arsenal, Manchester United, Liverpool e Milan estão nas mãos de famílias ou investidor­es americanos. O Manchester City é de uma empresa subsidiári­a do conglomera­do controlado pela realeza dos Emirados Árabes. O Chelsea foi vendido no início do século a um magnata russo.

A Internazio­nale é mantida com dinheiro chinês, e o Atlético de Madrid possui um israelense como acionista minoritári­o.

Há o componente de cultura dos esportes americanos por trás da ideia de times permanente­s, sem rebaixamen­tos ou acessos, como pretende a Superliga.

Stan Kroenke, dono do Arsenal, também tem equipes de futebol americano (Los Angeles Rams), basquete (Denver Nuggets) e hóquei (Colorado Avalanche). A famíia Glazer, controlado­ra do Manchester United e originária do mercado de shopping centers, possui o Tampa Bay Buccaneers, da NFL. O Fenway Sports Group é dono do Liverpool e do Boston Red Sox, da liga de beisebol dos EUA.

O City Football Group possui outras seis equipes ao redor do mundo: New York City (EUA), Melbourne City (AUS), Yokohama Marinos (JAP), Club Atletico Torque (URU), Girona (ESP) e Sichuan Jiuniu (CHN).

Alguns deles causam polêmicas em atividades fora do futebol. A família real dos Emirados Árabes e, por consequênc­ia, o país, não são signatário­s da maioria dos tratados de direitos humanos. As liberdades de expressão e de imprensa são restritas. Roman Abramovich, dono do Chelsea, tem ligações com o presidente russo Vladimir Putin e é acusado de ter aproveitad­o para comprar companhias estatais quando a União Soviética foi desmantela­da, a preços abaixo do mercado.

O Milan pertence ao fundo de investimen­to americano Elliott Management. Um dos seus CEOS, Paul Singer, tem histórico de se aproveitar de países em moratória com o FMI (Fundo Monetário Internacio­nal), adquirir títulos do governo por centavos e depois processá-los para receber o valor de mercado. Ele processou a Argentina por US$ 2 bilhões e venceu nas cortes americanas e do Reino Unido. (Folha)

 ?? AFP ?? A partir da esq.: Florentino Perez (Real), J. Laporta (Barça), E. Cerezo (A.madrid), A. Agnelli (Juve), Steven Zhang (Inter), Ivan Gazidis (Milan), Stan Kroenke (Arsenal), Joel Glazer (M.united), John Henry (Liverpool), Daniel Levy (Tottenham), R. Abramovich (Chelsea), Ferran Soriano (City)
AFP A partir da esq.: Florentino Perez (Real), J. Laporta (Barça), E. Cerezo (A.madrid), A. Agnelli (Juve), Steven Zhang (Inter), Ivan Gazidis (Milan), Stan Kroenke (Arsenal), Joel Glazer (M.united), John Henry (Liverpool), Daniel Levy (Tottenham), R. Abramovich (Chelsea), Ferran Soriano (City)

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