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LUDMILLA ‘A fama não me livrou de sofrer com racismo’

Cantora afirma que, para ser aceita, precisou se ‘mutilar’ e afinar o nariz: ‘Imagina o que acontece com quem não tem a visibilida­de que eu tenho’

- ISABELLA MENON LUCAS BRÊDA

No show que fez no início deste mês no Big Brother Brasil, Ludmilla disse uma frase simples, mas com mais significad­os do que aparenta em um primeiro momento: “Respeitem o nosso cabelo”.

Ela falava do processo de injúria racial que, em março, perdeu para Val Marchiori —em 2016, a socialite comparou o cabelo da cantora à palha de aço Bombril. Mas o posicionam­ento no reality show também serviu como apoio ao participan­te do programa João, que ouviu algo semelhante sobre seu black power.

Frequentad­ora das listas de músicas mais tocadas nas plataforma­s digitais, Ludmilla aproveita o sucesso para se posicionar.

A música “Verdinha”, ode não explícita à maconha, foi cantada por 1 milhão de pessoas no Carnaval de 2020 e rendeu denúncias por apologia de crime. “Numanice”, seu disco de pagode, só foi lançado porque ela diz que, agora, tem total controle sobre sua carreira. Seu show de pagode já custa mais que o de funk —sendo que ele ainda nem foi apresentad­o por causa da pandemia.

Esse comportame­nto impacta também a política. Em 2018, ela foi criticada por não se posicionar —mas ela promete declarar voto na próxima eleição.

Cantores têm sido presos por shows ilegais, como o Belo. Como vê essa questão?

A gente quer que tudo isso passe logo, mas nem todo mundo consegue ficar em casa. As pessoas precisam pagar as contas também. Mas gostam muito de marginaliz­ar o pagode e o funk. Prenderam o Belo e queriam prender outros funkeiros. Mas ninguém foi atrás de quem montou o evento ou dos patrocinad­ores. A gente sofre isso desde sempre.

Muitos profission­ais da área de entretenim­ento alegam que precisaria­m de um auxílio do governo.

A gente ainda tem como se manter, mas e nossa equipe? Os produtores, músicos, as famílias deles. Precisamos de aglomeraçã­o para trabalhar. E não dá para aglomerar de jeito nenhum. E tem a demora da vacina. Está na casa dos 60 [anos] ainda. Eu tenho 25. É desesperad­or.

Disse que funkeiros ou pagodeiros são os alvos preferenci­ais. Isso remete a uma discussão sobre a criminaliz­ação do funk. O DJ Rennan da Penha e o MC Poze do Rodo foram recentemen­te presos por associação para o tráfico, por tocarem em áreas comandadas pelo tráfico. Como viu esses casos?

Acho extremamen­te preconceit­uoso. O Rennan da Penha foi indiciado porque estava tocando em um lugar dominado pelo tráfico, só que é um lugar carente. Você pega um DJ de eletrônico, que toca num evento fechado e tem droga até o talo, ninguém é preso, porque os playboys dão o dinheiro a quem têm que dar. Agora, com os menos favorecido­s, eles chegam já batendo. Não temos culpa do que fazem no evento.

Já teve algum problema desse tipo com a polícia?

Fiz uma música chamada “Verdinha”

e veio o Palácio do Planalto todo atrás de mim, dizendo que eu estava fazendo apologia do crime. Tem tanto artista de MPB ou pop que fala diretament­e sobre isso.

Você processou o deputado cabo Junio Amaral (PSL-MG) após ele associar sua imagem ao tráfico por causa de ‘Verdinha’. O STF julgou que não houve calúnia nem difamação.

Não posso falar muito, mas olha a ironia. Ele me acusa de traficante, de associação ao tráfico, me faz

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Chico Cerchiaro/d

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