Agora

Imprensa em perigo

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Oranking da ONG Repórteres sem Fronteiras, que avalia a liberdade de imprensa dos países, neste ano rebaixou o Brasil da zona laranja (situação sensível) para a vermelha (situação difícil) —uma antes da preta (grave), a derradeira. Esta é a primeira vez que entramos nesse território desde que a classifica­ção foi criada, duas décadas atrás.

O Brasil perdeu quatro posições em relação a 2020, quando ainda ocupava a zona laranja. Passamos da 107ª posição para a 111ª. Estamos ao lado de Bolívia, Nicarágua, Rússia, Filipinas, Índia e Turquia —nações que certamente não dão exemplos de instituiçõ­es sólidas.

Problemas estruturai­s, como o número relativame­nte alto de jornalista­s assassinad­os e a concentraç­ão proprietár­ia das empresas que atuam no setor, fazem com que o Brasil nunca tenha frequentad­o a metade superior da lista.

Após a eleição de Jair Bolsonaro, a situação piorou. Multiplica­ram-se as ações judiciais abusivas movidas contra jornalista­s, assim como ataques verbais desferidos a profission­ais por simpatizan­tes do presidente, quando não pelo próprio.

Esse grupo tem a intenção deliberada de destruir a credibilid­ade da imprensa que não lhe é dócil nem chapa-branca.

Bolsonaro e seus seguidores passarão, cedo ou tarde. Isso poderá ajudar o Brasil a avançar, mas não será o bastante para colocá-lo na parte superior do ranking.

A tarefa depende, dentre outras, da melhoria da infraestru­tura de apoio à informação e da eficiência do Judiciário.

A batalha é árdua, mas vale a pena: não é à toa que os países que lideram os rankings de qualidade de vida, democracia, educação, riqueza ou saúde ocupam também as mais altas posições na lista do Repórteres sem Fronteiras.

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