Empresas de oxigênio fazem alerta sobre riscos em UPAS Engenheiros afirmam que estruturas são inadequadas
Empresas que produzem oxigênio medicinal têm emitido alertas para autoridades de saúde sobre os riscos de transformar unidades de saúde, como UPAS, em unidades de internação para pacientes de Covid-19.
A preocupação, segundo executivos das empresas, é quanto a infraestrutura destes postos.
Os problemas, dizem, envolvem locais como tanques de estocagem de oxigênio e redes centralizadas para o gás, ou o fato de o espaço não terem sistemas com a dimensão adequada para a expansão do consumo.
Newton Oliveira, diretorpresidente da IBG (Indústria Brasileira de Gases), com sede em Jundiaí (58 km de SP), afirmou já ter comunicado diversos clientes, tanto públicos quanto privados, sobre riscos de abrir espaços sem o planejamento.
“O grande aumento na demanda está fazendo com que os equipamentos instalados não suportem a pressão. Quando isso acontece pode até congelar o vaporizador [responsável por transformar o oxigênio líquido em gasoso] e, em último caso, levar oxigênio medicinal líquido direto ao paciente, podendo provocar sérios danos à saúde.”
Em nota, a White Martins afirmou “que vem alertando exaustivamente as autoridades sobre os riscos de transformar unidades de pronto atendimento em unidades de internação”. Segundo a empresa, há impactos significativos na logística, na segurança operacional e na confiabilidade do abastecimento.
Gerente geral da Air Products,
de Mogi das Cruzes (Grande SP), Marcus Silva afirmou que a situação é atípica. “Numa situação de guerra você faz o que o entorno permite fazer. Alguns locais realmente estão precisando de adaptação”, afirmou.
Mas, segundo as empresas, mesmo alertado sobre riscos, o poder público pouco ou nada faz para resolver problemas de estrutura.
“Todo o dia estamos trocando tanques. Principalmente em hospitais públicos. Já cheguei a mandar cartas avisando sobre as instalações inadequadas. Eu não posso deixar de entregar o produto sob pena de sofrer uma ação criminal por atentar contra a vida de terceiros”, afirmou o executivo da IBG. (CF)
O engenheiro civil Carlos Hernandes, professor da área de manutenção hidráulica e gases medicinais do IPH (Instituto de Pesquisas Hospitalares Arquiteto Jarbas Karman), disse que a estrutura de uma UPA não é dimensionada para prestar esse tipo de atendimento.
“Posso transformar? Posso. Porém, se você tem uma rede que foi dimensionada para um tipo de sistema, e está usando para outro, isso é um risco. E precisa ser um risco assistido”, afirmou.
Hernandes afirmou não ser possível que os prédios passem por obras civis para serem totalmente adaptados. E que elas podem ser gradativas, porém, não devem ser esquecidas, sem que revisões sejam feitas.
Segundo o especialista em engenharia hospitalar Lucio Flavio de Magalhães Brito, professor de pós-graduação do Centro Universitário FEI, em geral, alerta sobre as transformações dos espaços sem planejamento, mesmo em hospitais já estruturados. “O leito de um quarto é dimensionado para uma vazão diferente de uma UTI”, disse.
Brito afirma que durante muito tempo a infraestrutura elétrica foi uma das maiores preocupações nos hospitais e rede de gases acabou preterida. (CF)