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Reação à Superliga engaja ingleses por mais mudanças U

Entidades querem aproveitar sucesso e envolvimen­to do governo para debater a regulação

- ALEX SABINO

A reação na Inglaterra contra a criação da Superliga foi tão virulenta que os donos de 4 dos 6 clubes do país envolvidos no projeto pediram desculpas: Arsenal, Liverpool, Manchester United e Tottenham. O Manchester City divulgou apenas um comunicado de três linhas. E o Chelsea não se desculpou.

A pressão organizada de grupos de torcedores foi um dos fatores que levaram metade dos 12 times fundadores da competição a pular do barco. Eles também capitulara­m diante das ameaças da Uefa, dos outros 14 clubes da Liga Inglesa e do governo britânico.

O movimento na Inglaterra derrubou qualquer chance de levar a Superliga adiante. Também fundaram o grupo os espanhóis Real Madrid, Barcelona e Atlético de Madrid e os italianos Juventus, Milan e Inter.

Nesta quarta, Atlético de Madrid, Inter e Milan também anunciaram a desistênci­a oficial da Superliga.

Para as organizaçõ­es de torcedores britânicos, a polêmica abriu uma porta para pressionar por alterações na estrutura do futebol.

Em reunião virtual com representa­ntes de torcidas dos seis clubes que participar­iam da Superliga, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson sinalizou com a criação de uma comissão composta por diferentes partidos para analisar mudanças na governança do futebol.

“O que nós queremos é alterar a estrutura dos clubes. É preciso coragem do governo para fazer isso, mas o momento é propício. Se nada for feito, nós vamos apenas pular de uma crise para a outra”, defende Joe Blott, presidente do Spirit of Shankly, grupo de torcedores do Liverpool.

Eles receberam com desconfian­ça os discursos de arrependim­ento. John Henry, CEO do Fenway Group, dono do Liverpool, administra a agremiação dos EUA e raramente aparece na Inglaterra. Joe Glazer, que assina a carta de desculpas em nome do Manchester United, vive na Flórida e não vai ao Old Trafford há mais de dois anos.

Os grupos que reúnem fãs de diferentes equipes, rivais dentro de campo, têm se reunido para traçar uma estratégia. O consenso é que a pressão tem de continuar sobre o governo.

Para essas associaçõe­s, o anúncio de que as agremiaçõe­s abraçariam um projeto ganancioso e puramente financeiro foi o momento em que as bandeiras que defendem ganharam força.

O objetivo é que a Inglaterra adote modelo idêntico ao da Alemanha, em que nenhuma empresa ou pessoa física pode ter mais de 50% das ações de um clube.

“Queremos que seja garantido a organizaçõ­es de torcedores lugares na diretoria e que as vozes deles sejam ouvidas. Também que torcedores possam ter participaç­ão acionária até 25%. Eles não querem o lucro, é um investimen­to puramente emocional. É uma relação diferente dos bilionário­s que compram as equipes”, afirma Stirling.

Não é só no Reino Unido que mudanças são pleiteadas. Roxana Maracinean­u, ministra do Esporte da França, afirmou que o sistema local, em que há uma supervisão governamen­tal das federações, deveria ser estendido a toda a União Europeia. (Folha)

O que nós queremos é alterar a estrutura dos clubes. É preciso coragem do governo para fazer isso

Joe Blott, torcedor

do Liverpool

 ?? Justin Tallis/afp ?? Torcedores do Tottenham protestam, antes do jogo contra o Southampto­n, contra o ENIC Group, proprietár­io do clube, por seu envolvimen­to na Superliga
Justin Tallis/afp Torcedores do Tottenham protestam, antes do jogo contra o Southampto­n, contra o ENIC Group, proprietár­io do clube, por seu envolvimen­to na Superliga

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