Reação à Superliga engaja ingleses por mais mudanças U
Entidades querem aproveitar sucesso e envolvimento do governo para debater a regulação
A reação na Inglaterra contra a criação da Superliga foi tão virulenta que os donos de 4 dos 6 clubes do país envolvidos no projeto pediram desculpas: Arsenal, Liverpool, Manchester United e Tottenham. O Manchester City divulgou apenas um comunicado de três linhas. E o Chelsea não se desculpou.
A pressão organizada de grupos de torcedores foi um dos fatores que levaram metade dos 12 times fundadores da competição a pular do barco. Eles também capitularam diante das ameaças da Uefa, dos outros 14 clubes da Liga Inglesa e do governo britânico.
O movimento na Inglaterra derrubou qualquer chance de levar a Superliga adiante. Também fundaram o grupo os espanhóis Real Madrid, Barcelona e Atlético de Madrid e os italianos Juventus, Milan e Inter.
Nesta quarta, Atlético de Madrid, Inter e Milan também anunciaram a desistência oficial da Superliga.
Para as organizações de torcedores britânicos, a polêmica abriu uma porta para pressionar por alterações na estrutura do futebol.
Em reunião virtual com representantes de torcidas dos seis clubes que participariam da Superliga, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson sinalizou com a criação de uma comissão composta por diferentes partidos para analisar mudanças na governança do futebol.
“O que nós queremos é alterar a estrutura dos clubes. É preciso coragem do governo para fazer isso, mas o momento é propício. Se nada for feito, nós vamos apenas pular de uma crise para a outra”, defende Joe Blott, presidente do Spirit of Shankly, grupo de torcedores do Liverpool.
Eles receberam com desconfiança os discursos de arrependimento. John Henry, CEO do Fenway Group, dono do Liverpool, administra a agremiação dos EUA e raramente aparece na Inglaterra. Joe Glazer, que assina a carta de desculpas em nome do Manchester United, vive na Flórida e não vai ao Old Trafford há mais de dois anos.
Os grupos que reúnem fãs de diferentes equipes, rivais dentro de campo, têm se reunido para traçar uma estratégia. O consenso é que a pressão tem de continuar sobre o governo.
Para essas associações, o anúncio de que as agremiações abraçariam um projeto ganancioso e puramente financeiro foi o momento em que as bandeiras que defendem ganharam força.
O objetivo é que a Inglaterra adote modelo idêntico ao da Alemanha, em que nenhuma empresa ou pessoa física pode ter mais de 50% das ações de um clube.
“Queremos que seja garantido a organizações de torcedores lugares na diretoria e que as vozes deles sejam ouvidas. Também que torcedores possam ter participação acionária até 25%. Eles não querem o lucro, é um investimento puramente emocional. É uma relação diferente dos bilionários que compram as equipes”, afirma Stirling.
Não é só no Reino Unido que mudanças são pleiteadas. Roxana Maracineanu, ministra do Esporte da França, afirmou que o sistema local, em que há uma supervisão governamental das federações, deveria ser estendido a toda a União Europeia. (Folha)
O que nós queremos é alterar a estrutura dos clubes. É preciso coragem do governo para fazer isso
Joe Blott, torcedor
do Liverpool