Saúde loteada
Qualquer que seja o desfecho sobre as intrincadas suspeitas de corrupção na compra de vacinas, já ficou claro que o Ministério da Saúde esteve —e está— loteado da pior maneira possível.
Em plena crise sanitária, áreas essenciais da pasta estavam nas mãos de militares despreparados ou cercadas de interesses políticos questionáveis.
Acusado de cobrar propina para uma compra de Astrazeneca, Roberto Ferreira
Dias foi exonerado do posto de diretor de Logística logo após a revelação do caso pela
O servidor estava no ministério desde o início do governo, por indicação partidária —o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM) diz que o ex-auxiliar apresentava excelente currículo.
Noticia-se agora, a partir de informações extraoficiais, que outro ex-ministro, o general Eduardo Pazuello, tentou demitir Ferreira Dias —o então presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), porém, teria atuado contra a medida.
Um dos maiores orçamentos do Executivo, a Saúde teve gastos empenhados de R$ 175 bilhões em 2020. O entra e sai de ministros e o aparelhamento militar da pasta decerto não contribuíram para uma gestão mais eficiente dos recursos.
Já o governo, pressionado, titubeia. Diz, por exemplo, que não encontrou irregularidades na compra da Covaxin, mas anunciou a suspensão do contrato.
Casos de loteamento e desmandos no setor vêm de longa data, e todo governo acaba distribuindo cargos a aliados.
Esse fisiologismo é mais prejudicial, porém, quando os laços da aliança são frágeis e não há diretrizes claras para a gestão de áreas essenciais. Que isso tenha ocorrido na Saúde em meio à pandemia dá a dimensão da tragédia brasileira.