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Christiane Torloni relembra luto e cita cena mais dif ícil de ‘A Viagem’

Atriz ainda se recuperava da morte do filho quando gravou a novela espírita, exibida pela primeira vez em 1994

- KARINA MATIAS

As atrizes Christiane Torloni, 64 anos, e Lucinha Lins, 68, relembrara­m na sexta-feira (2) uma das cenas mais emocionant­es e difíceis que gravaram em “A Viagem” (1994): o momento em que o personagem de Guilherme Fontes, Alexandre, irmão delas na história, morre e acontece uma cerimônia de cremação.

Em uma live com Torloni para celebrar o último capítulo da reprise, exibido pelo canal Viva na sexta, Lucinha contou que ligou para o diretor Wolf Maya para dizer que a colega não poderia participar daquela gravação. Isso porque a intérprete de Diná ainda vivia o luto da perda do filho Guilherme, morto em 1991 em um acidente.

“Ele [Wof Maya] me disse: ‘você não é a primeira que me diz isso, mas falei com ela, e ela vai encarar’. Todos nós [do elenco] estávamos extremamen­te preocupado­s porque aquilo poderia magoar você”, disse Lucinha para Torloni.

A atriz relembrou que, durante as filmagens, uma borboleta amarela pequena pousou no caixão, bem em frente a Torloni. “Teve que parar a gravação. Essa borboleta voltou duas ou três vezes voando, e ela vinha para você [Torloni]”, comentou.

“Nós éramos muitos nos estúdios e emocionou a todos. [A borboleta] era uma gota de cristal e ela flutuava na sua frente, era uma proteção, uma luz para você naquela cena. Jamais esquecerei”, completou a atriz.

Torloni disse não se lembrar da borboleta, mas afirmou que aquela filmagem foi a mais difícil que fez ao longo de toda a novela. Ela contou que, antes de estrelar “A Viagem”, estava morando em Portugal com o filho Leonardo, que era irmão gêmeo de Guilherme, e ainda se recuperava da morte precoce do menino aos 12 anos.

Contou também uma curiosidad­e: foi o cantor português Roberto

Leal, morto em 2019, que a apresentou à doutrina espírita, tema da novela. “Ele acabou descobrind­o onde eu estava morando, e a primeira vez que eu recebi um livro espírita foi dele, com uma dedicatóri­a que eu guardo até hoje.”

Ela relata que voltou ao Brasil pelo caminho do espiritism­o e que a “A Viagem” fez parte desse processo. Sobre a cena da cremação, Torloni disse lembrar que se sentiu abraçada pelos colegas de elenco.

“O artista é um sujeito que empresta tudo que ele tem para a arte. Nós vivemos em uma corda bamba, somos equilibris­tas da poesia, do amor e da arte. Se as pessoas pudessem imaginar como nós somos perigosame­nte desequilib­rados”, disse. “A gente está nessa corda bamba, sem bastão na mão, e a arte nos equilibra. Mas ela pode nos desequilib­rar também.”

Lucinha Lins, por sua vez, disse que sua cena mais difícil é quando Estela, sua personagem, recebe a notícia da morte da irmã Diná. Ela contou que a sequência foi gravada em um sábado, com direção de Mauricio Farias.

“Eu falei: não sei como vou fazer isso. E ele disse: eu também não sei”, recordou. Lucinha disse que achava que tinha de cair no chão, porque era como se a Estela tivesse perdendo as forças. Farias concordou e disse que ela não precisava se preocupar com o texto nem com as marcações, porque ele deixaria todas as câmeras ligadas.

Assim foi feito, e a cena foi filmada de primeira, sem precisar repetir. Naquele dia, disse a atriz, nada mais foi gravado. “[No retorno] eu tive que parar em algum lugar, e eu devo ter chorado uns 40 minutos, eu não tinha controle. E ali eu também percebi que era a reta final da novela. Nossa, meu Deus, que perda que estava acontecend­o no meu coração, na minha alma e na minha cabeça diante de um trabalho tão lindo, tão emocionant­e de fazer.”

 ?? Divulgação/tvglobo ?? Christiane Torloni como Diná, na novela ‘A Viagem’; atriz fez uma live com a colega Lucinha Lins para falar sobre a trama
Divulgação/tvglobo Christiane Torloni como Diná, na novela ‘A Viagem’; atriz fez uma live com a colega Lucinha Lins para falar sobre a trama

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