Atriz participou de conversas com prostitutas
tituta carioca. É quando, vestida de forma elegante, a personagem participa de uma festa chique. Para não denunciar sua falta de etiqueta, ela é orientada a dizer uma úncia frase durante o evento, repetida à exaustão: “Que boa ideia esse casamento primaveril em pleno outono”.
A cena é uma das preferidas de Camila, que lista alguns fatores para tentar explicar o sucesso da personagem. O primeiro deles, pontua ela, é que a trama evidencia toda a batalha de Bebel. “O dia a dia dela no calçadão, passando humilhação, frio, lutando para sobreviver, as dificuldades que ela enfrenta com o cafetão Jáder [Chico Diaz]. Humanizou, mostrou um lado da condição social mesmo de muitas mulheres.”
O segundo fator é o tom cômico que surge dos embates com Jáder. “Mesmo na rivalidade entre eles, começaram a surgir os bordões ‘cueca manera’, ‘catiguria’. É popular, que ri de si mesma, e meio orgulhosa e engraçada que começou ali.”
Romance atravessado
Por fim, há a história complicada com Olavo, um romance “meio atravessado”, que ganha a simpatia do público. “Ela queria mesmo o dinheiro dele, e ele só queria o corpo dela. Eles eram babacas um com o outro. Só que no pano de fundo, havia um tesão e um amor real entre eles, que foi ganhando corpo, ganhando terreno e foi se tornando essa coisa engraçada.”
Será que, diante da onda conservadora que tomou o Brasil nos últimos anos, Bebel e Olavo voltariam a fazer sucesso em horário nobre? Camila acredita que sim. Para ela, a trajetória da personagem não é contada de forma estereotipada nem romantizada, mas gera identificação por ser uma história da condição humana. “Essa onda conservadora grita alto, mas não é a maioria. O povo brasileiro não é assim em sua maioria, ele é solidário, amoroso, gosta e tem muito respeito pela luta das pessoas.”
A atrizcamila Pitanga conta que para fazer o papel de Babel em “Paraíso Tropical” participou de rodas de conversas com prostitutas de diferentes esferas sociais, desde a que fica no calçadão até a acompanhante de luxo. Também esteve em contato próximo com Gabriela Leite, ativista dos direitos das prostitutas que fundou a marca Daspu, e morreu em 2013.
“A grande luta dela era para que esse trabalho de prostitua tivesse mais garantias de saúde e de proteção social. Quanto mais seguro e cuidadoso for esse campo, é bom para todo o mundo, mas avançamos pouco nisso nos últimos anos”, lamenta a atriz.
Pelos papéis de Bebel e Olavo, Camila Pitanga e Wagner Moura ganharam o prêmio de melhor ator e atriz de televisão de 2007 da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) —ela dividiu o troféu com Jussara Freire (“Vidas Opostas”, Record), e ele com Marcelo Serrado (por “Vidas Opostas” e a série “Mandrake, da HBO).
“Paraíso Tropical” foi eleita a melhor novela do ano. Camila Pitanga ressalta que a trama teve também outros destaques.
“Não é só a Bebel”, reforça. Ela cita como exemplo as participações de Hugo Carvana (1937-2014) e Yoná Magalhães (1935-2015) como o casal Belisário e Virgínia, além de Vera Holtz, como a promoter Marion Novaes, que tem uma relação complicada com o filho Olavo. “A novela tem muita coisa boa, vou adorar rever”, conclui Camila Pitanga. (KM)