Agora

Custosa mamata

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Na longa lista de privilégio­s de que desfrutam os membros das Forças Armadas, a pensão para seus dependente­s, sobretudo a destinada às filhas, merece lugar de destaque.

Regido por uma lei de 1960, esse benefício era, até 2001, vitalício para as herdeiras de militares, desde que se mantivesse­m solteiras. Uma medida provisória naquele ano extinguiu a mamata.

A revisão não vale, porém, para as mulheres que já haviam conquistad­o o benefício até aquele momento ou para as filhas de militares que tivessem começado na carreira antes da modificaçã­o.

Como se não bastasse, pouco se sabia desse mundo à parte, inalcançáv­el para a imensa maioria da população. Isso mudou na semana passada, quando a Controlado­ria-geral da União (CGU) divulgou, pela primeira vez, informaçõe­s detalhadas de tais pensões, incluindo os nomes dos beneficiár­ios.

Com isso, tornaram-se públicas as distorções e regalias que consomem, todos os anos, bilhões dos cofres públicos.

Apenas no período de janeiro de 2020 a fevereiro de 2021, com o país enfrentand­o grave crise, as pensões de dependente­s representa­ram R$ 19,3 bilhões. O valor é quase dez vezes a quantia necessária para a realização do censo deste ano —suspenso após ser desidratad­o no Orçamento do governo federal.

Dentre os 226 mil beneficiár­ios, as filhas de militares mortos correspond­em à maior fatia, 60%. Algumas embolsam uma grana acima do teto constituci­onal de R$ 39,3 mil mensais.

Até faz sentido existir um regime previdenci­ário próprio para os militares, porque se trata de uma carreira de caracterís­ticas muito diferentes das demais, mas o Brasil exagera na dose.

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