Em paz consigo mesma
Marisa Monte lança disco inédito após dez anos e cria projeto de apoio a profissionais prejudicados pela pandemia: ‘A cultura é a alma do país’
Em paz com o tempo. É assim que Marisa Monte se vê diante do lançamento de seu primeiro álbum solo de canções inéditas em quase uma década. O disco, no entanto, chega num momento nada pacífico.
Em direção contrária à crescente onda negacionista que se instala no país, a obra propõe o que Marisa chama de “afirmacionismo”. Cheio de otimismo, esperança e traços típicos da cantora, “Portas” é um disco produzido durante o caos pandêmico da Covid-19 e lançado na quinta (1º), aniversário de 54 anos da artista carioca, consagrada como um dos maiores ícones da MPB.
Resgatando a famosa serenidade pop de discos anteriores, como “Mais”, de 1990, e “O Que Você Quer Saber de Verdade”, de 2011, “Portas” traz aquela essência dicotômica de Marisa, com sua ternura robusta já tão estabelecida na carreira, e dispensa grandes ousadias.
Meses após lotar estádios dentro e fora do Brasil com a última turnê dos Tribalistas —a trinca queridinha dos casais apaixonados—, Marisa se despediu das redes sociais e deixou implícito que o tão aguardado solo de inéditas viria em breve, mas manteve o mistério no ar.
“Queridos, depois desse período de expansão com direito a muitas viagens, shows e álbuns novos, estou entrando em um período de trabalhos internos e vou ficar invisível por um tempo”, escreveu ela, em maio de 2019.
Seu plano era gravar em maio do ano seguinte uma série de composições feitas durante o período offline. Mas ela não esperava —é claro— uma pandemia no caminho.
Quando o caos chegou foi preciso, então, “recalcular a rota do GPS” e abusar da criatividade, segundo Marisa.
“Era um disco que eu queria fazer a partir do encontro”, diz ela. “Um disco ao vivo, gravado em estúdio com a dinâmica da intensidade e do alívio que você só consegue quando tem todo mundo tocando junto.”
A ideia era produzir uma obra à la