Falta emoção na série sobre o crime de Elize Matsunaga
Obra traz entrevista exclusiva com a mulher que matou o marido em 2012
CRÍTICA
A mini sinopse distribuída pela Netflix da série documental “Elize Matsunaga: Era uma Vez um Crime” consegue resumir quase toda a obra em apenas duas ou três magras linhas: “Em um crime que chocou o Brasil, Elize Matsunaga mata e esquarteja o marido. Agora, ela dá sua primeira entrevista nesta série documental que explora o caso.”
Em seus quatro capítulos, a série não apresenta nada de novo para quem teve algum interesse de acompanhar as notícias do crime ocorrido em 2012. A série de Elize reconta, de forma honesta, a história do crime com a participação da assassina confessa, que conta detalhes de sua vida, de como conheceu o marido, as brigas com ele e como tudo acabou em tragédia.
Pode provocar curiosidade quando ela fala da paixão dela por armas, por caçadas e pelas obras do pintor italiano Caravaggio, do século 16. “Foi uma pessoa mesmo que fez isso?”, diz ela sobre a obra, frase que remete ao próprio crime.
Para quem nada sabe do caso, a primeira parte da história de Elize lembra muito o filme “Uma Linda Mulher”. Uma garota de programa vinda do interior e que, no trabalho, conhece um milionário, Marcos Matsunaga, executivo da Yoki. Os dois se apaixonaram, se casaram e tiveram uma filha.
Esse conto de fadas torna-se um filme de terror quando, após investigar o marido, Elize confirma as suspeitas de nova traição. Na versão dela, há uma discussão por causa disso, ela leva um tapa e, no desespero, acabando matando o marido e, depois, esquartejando o corpo.
Um dos pontos positivos da série é a sobriedade como o assunto é tratado. Não há sensacionalismo diante de um tema tão sério. Falta, porém, um pouco de emoção. Diferente do que acontece com as grandes séries documentais da própria
Netflix, “Elize” quase não consegue despertar comoção ou tirar o espectador do estado normal.
As belas imagens escolhidas, a construção do roteiro e a ausência de alguns assuntos espinhosos dão certos ares de um trabalho de reconstrução de imagem. “Está um dia ensolarado, é isso o que você merece”, ouve Elize de sua advogada, quando tomam um café após “saidinha” dela da prisão, em 2019.
Um dos motivos que parecem ter levado a assassina a conceder a entrevista foi poder contar à filha o que aconteceu, conforme lembra um dos produtores. “Hoje é o dia em que você vai contar a história para sua filha”, diz o produtor sobre a garota, que Elize não vê desde o dia da prisão. A entrevistada reforça a ideia.
“Quero ter a oportunidade de falar para ela o que houve de verdade. ‘Olha minha filha, eu tentei fazer diferente, eu tentei não errar, mas eu não consegui.” (Folha)