Agora

A luta de uma artista

A cantora Angela Ro Ro enfrenta problemas financeiro­s na pandemia e pede ajuda em suas redes sociais

- BRUNO B. SORAGGI

Angela Ro Ro precisa de dinheiro —e aceita Pix, DOC ou TED. “Não é a primeira vez que passo o chapéu pedindo ajuda financeira. Não tenho o menor pudor”, diz a cantora de 71 anos, que recentemen­te postou nas redes sociais seus dados bancários para quem puder ajudála. “As pessoas que quiserem botam R$ 5, R$ 10”, explica ela, que já tinha feito isso em 2020.

O motivo do perrengue continua o mesmo: a falta de shows em meio à epidemia de Covid-19. “Antes [do coronavíru­s] eu trabalhava três vezes por mês”, afirma. “Mas não quero viver de doações como uma monja budista. Quero é trabalhar”, segue ela. O pedido de ajuda gerou hostilidad­e. “Teve muita gente maledicent­e. Falavam: ‘Vai vender bala no trem, véia’. Quer dar doação? Dá. Não quer? Não enche o meu saco!”

Angela chegou a fazer lives nesse período e ainda se recusa a se apresentar presencial­mente, mesmo já imunizada em duas doses contra a Covid-19. “Me convidam para fazer festa clandestin­a. Mesmo vacinada, não vou. Não vou contribuir para pau no cu”, diz ela, criticando esses eventos. “Minha loucura é o delírio musical, a arte, o pensamento livre. Não infringir leis de saúde.”

A cantora está reclusa desde o ano passado em sua casa em Saquarema (RJ). “Vim passar o Carnaval [aqui], aí veio a quarentena e fiquei”, relata. “Não pretendo voltar para o Rio tão cedo. Aqui fico tran

Teve muita gente maledicent­e. Falavam: ‘Vai vender bala no trem, véia’. ‘Quer dar doação? Dá. Não quer? Não enche o meu saco!’

Angela Ro Ro, cantora

quila, é econômico, tem meu pianinho, ar puro maravilhos­o de respirar, jardim com árvore”, diz. Foi de lá que ela conversou com a coluna de Mônica Bergamo, por telefone.

Outra postagem recente da cantora mobilizou redes sociais e sites de notícia. Em junho, mês do orgulho LGBT, ela publicou uma imagem com os dizeres “sem homofobia”, “já cansei de ser vítima solitária” e “não somos mártires!”. A cantora é lésbica “desde adolescent­e” e conta que seus pais (um engenheiro civil e uma enfermeira e dona de casa) sempre a “amaram fosse qual fosse a opção sexual”.

“Mami era muito engraçada. A primeira namorada que arrumei no colégio, levei pra casa e, quando minha mãe entrou no meu quarto, a gente estava dando um beijo na boca”, lembra. “Aí ela esculachou: ‘Minha filha, que você gosta de menina, tudo bem. Agora, vê se arranja uma moça bonitinha!’”, continua a cantora, que gargalha com a memória. “A moça não era muito bonita mesmo [risos].” Mas o respeito à sua homossexua­lidade não foi o mesmo fora de sua casa.

“Eu fui espancada por homofobia cinco vezes. Entre 31 anos e 35 foram quatro. Com 45 anos, fui espancada, espero, pela última vez”, conta a artista, que por causa das agressões ficou cega do olho direito, teve a coluna e o abdômen fraturados e perdeu 50% da audição. “Das cinco, quatro tiveram tentativa de estupro.”

Em um desses episódios, ela conta ter ficado 11 dias internada após apanhar de três policiais civis que a abordaram na saída de um restaurant­e. Em outro, levou coronhadas de escopeta no baixo ventre. “Na hora que ele deu [o golpe], falei: ‘Ai, meu útero’. O sujeito falou: ‘Sapatão não tem útero’ Vou discutir? Aprenda: quando for espancado, não fale nada”, narra ela. “Abriu dez centímetro­s [de ferimento]. Anos depois, tive que abrir o capô pra consertar.

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Pablo Bernardo/divulgação A cantora Angela Ro Ro durante apresentaç­ão

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