Agora

Batalha sem glória

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Na eleição de 2018, o então deputado federal Jair Bolsonaro reclamava com frequência que o PT havia empregado muitos militantes de esquerda nos cargos do governo.

Mas Bolsonaro também não se esqueceu de seus amigos e colegas quando sentou na cadeira da Presidênci­a. Levou um monte de militares para o alto escalão dos ministério­s, com um efeito cascata que gerou uma verdadeira invasão fardada em seu governo.

Assim, as Forças Armadas voltaram a ter muita influência política, como não acontecia desde o fim da ditadura. Essa situação pode ser muito arriscada.

Isso ficou claro no episódio em que o presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), disse nesta semana existir um “lado podre” nas Forças Armadas, ao citar a presença de muitos militares em casos suspeitos de irregulari­dades no Ministério da Saúde.

O senador poderia ter escolhido melhor suas palavras, é verdade. Mas não falou nada de orelhada.

Militares de alta patente aparecem em casos que estão sendo investigad­os na Saúde, como a compra da vacina indiana Covaxin e o enrosco da suposta cobrança de propina por imunizante­s.

Os fardados, por sua vez, não gostaram da crítica do senador e tiveram uma reação exagerada, o que mostra a dificuldad­e em lidar com o fato de que ser parte do governo Bolsonaro tem um preço.

A resposta do Ministério da Defesa teve tom autoritári­o ao estilo do presidente, tentando emparedar o Senado. No fim das contas, os ânimos se acalmaram.

Mas fica a lição de que as rusgas entre militares e civis precisarão ser abordadas de forma mais sóbria e prudente, antes que algo de pior ocorra.

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