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Vacinas vencem variantes após 2ª dose, mas ainda há incertezas

Transmissã­o alta favorece mutação do coronavíru­s; reforço periódico é provável, dizem especialis­tas

- REINALDO JOSÉ LOPES

Ao menos por enquanto, as vacinas desenvolvi­das contra a Covid-19 estão vencendo a corrida contra o aparecimen­to de variantes do vírus causador da doença.

Os dados publicados até agora indicam que algumas formas do Sars-cov-2 driblam parcialmen­te os anticorpos produzidos depois da primeira dose da imunização. Mas o reforço do sistema de defesa do organismo impulsiona­do pela segunda dose das vacinas é suficiente para produzir um bom grau de proteção, ainda que talvez menor do que o esperado anteriorme­nte.

A questão é saber até quando a situação continuará nesse patamar de risco aparenteme­nte aceitável. As incertezas ainda são grandes, a começar pela trajetória que a transmissã­o do vírus seguirá nos próximos meses e anos em nível global.

A possível continuida­de de níveis elevados de transmissã­o está entre os fatores chave: quanto mais um vírus circula pela população de hospedeiro­s, maiores suas chances de produzir um número elevado de cópias de seu material genético. Tais cópias podem vir com “erros de impressão”, e eles é que funcionam como matéria-prima para que a seleção natural atue.

Algumas versões do vírus podem, por acaso, ser mais eficazes para infectar células humanas ou saltar de pessoa para pessoa, e essas tenderão a se multiplica­r e suplantar as demais, processo que é basicament­e o que tem acontecido em diferentes locais afetados pela pandemia mundo afora.

“Isso é um fenômeno totalmente esperado e dentro do normal da biologia”, diz Maurício Lacerda Nogueira, professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (SP). Ele ressalta que as evidências disponívei­s hoje apontam apenas para os chamados escapes parciais em relação ao efeito das vacinas —nenhuma variante identifica­da até agora é capaz de um escape total.

“Existem milhares de variantes descritas até agora, mas só algumas realmente podem ser um problema para a gente. São as chamadas VOCS [sigla inglesa de ‘variantes que causam preocupaçã­o’]”, diz Rômulo Leão Neris, doutorando em imunologia na UFRJ. (Folha)

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